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Os Antigos e os Modernos

Já nos primórdios do nascimento da Primeira Grande Loja apareceriam os primeiros problemas de gestão e desenvolvimento, próprios dos novos conceitos que abrangem as novidades e que normalmente não são vistos com bons olhos. Tomando-se em conta o particular modelo tradicionalista dos Maçons ingleses, onde o novo método obediencial não obtinha consenso, era natural o aparecimento de uma contenda entre os inovadores e os tradicionalistas.
De 1720 a 1721, durante o segundo mandato que teve como Grão-Mestre George Payne, foram elaborados os Regulamentos Gerais da Grande Loja que mais tarde faria parte do Livro das Constituições. Coube então ao Duque de Montague, empossado em 1721, permanecendo no cargo até 1723, suceder a Payne. Montague, primeiro membro da nobreza inglesa á ingressar na Primeira Grande Loja e presidi-la, foi sob a sua presidência que teve início a compilação das “Old Charges” (Antigas Obrigações) que resultaria no Livro publicado em 1723, conhecido atualmente sob o título de “As Constituições de Anderson”.
Com conteúdo expresso pelos antigos preceitos, costumes e regulamentos gerais da Franco-Maçonaria, sua codificação obteve também a importante participação de dois ex-Grão-Mestres e fundadores da primeira Grande Loja – George Payne e Jean Théophile Désaguliers. Payne organizou os textos mais importantes das antigas constituições e os entregou ao Reverendo James Anderson, enquanto Désaguliers, principalmente pela sua grande capacidade intelectual, seria o mentor do Livro das Constituições e considerado como instrumento jurídico básico do direito maçônico, a despeito das revisões e alterações pela qual passaria até o ano de 17381. Essas Constituições publicadas pela primeira vez em 1723 ficariam conhecidas como “As Constituições de Anderson2.
Dentre outras dificuldades enfrentadas pela Primeira Grande Loja em seus primeiros anos de existência, também estava a da sua autodenominação como Grande Loja “Mãe”, até hoje por muitos questionados a despeito, de não ter havido consenso de toda a Maçonaria da época na aceitação do sistema obediencial.
As Constituições em 1723 acabariam por consolidar o novo sistema organizacional, todavia, longe de um consenso, levaria aos Maçons presos às antigas tradições a denominá-lo de “os modernos”. Essa posição estava amparada no choque ocasionado pelas drásticas inovações impostas pelo novo sistema, principalmente no tocante à religiosidade haurida das raízes monásticas do passado. A Maçonaria dita tradicional relegava os conceitos modernos que omitiam as orações, as preleções e os sermões; omitiam as comemorações dos Dias Santos, além da descristianização dos rituais e a ausência de Diáconos como oficiais em suas Lojas da origem do ofício de Diácono está na Igreja. Outros motivos alegados pelos “tradicionalistas” era a preparação incorreta de candidatos, a abreviação das Cerimônias Maçônicas, a transposição dos meios de reconhecimento, omissão da leitura das “Antigas Obrigações” aos Iniciados, o abandono da Cerimônia de Instalação do Mestre da Loja, etc.3
Muito embora a insegurança administrativa e as dificuldades enfrentadas pela Primeira Grande Loja, esta aportava no ano de 1730 com uma constelação de aproximadamente 100 Lojas, cujo suporte administrativo, ligado à nobreza a partir de 1723, equilibrava a situação como uma espécie de sobrevivência em seu favor. Entretanto, em sua oposição, se apresentava um crescente descontentamento que levaria muitas Lojas, até mesmo, a suspenderem as suas reuniões. Muitas delas, descontentes com o sistema obediencial, continuavam suas atividades,
todavia, na forma tradicional, ignorando por completo todas as mudanças instituídas pela Primeira Grande Loja, solidificando assim um movimento de oposição que contestava a autoridade daquela que também se autodenominava de “Grande Loja Mãe”.
Neste cenário estratificado, não tardaria a aparecer uma Grande Loja rival que ressalvasse a sustentação dos antigos princípios, usos e costumes do ofício. Em 17 de julho de 1751 na Turk’s Head, Greek Street, no Soho, uma assembleia de Maçons realizada por cinco Lojas4 dava por declarada as suas intenções pertinentes à preservação dos antigos costumes, autodenominando-se “Grande Loja dos Antigos” em contraposição à Primeira Grande Loja, então classificada como “Moderna”.
NOTA – No século XVIII, em consonância com o aparecimento da Moderna Maçonaria, acentuava-se também o aspecto difamatório contra a Maçonaria. As novas formas de admissão eram severamente censuradas e questionadas pelos Maçons tradicionais em detrimento aos fatos que resultaram nas famosas revelações (“exposures”), a exemplo de Samuel Prichard com a sua “Masonry Dissected'” (Maçonaria Dissecada), que acabou por obter três edições em um só mês – outubro de 1730.
Posteriormente “Jachim and Boaz” (com base nos Modernos) e “The Three Distínct Knocks” (Três Batidas Distintas, com base nos Antigos). Não menos importante foi também a bula contra os Maçons, assinada pelo Papa Clemente XIII, publicada em 1738.
Na verdade, a Grande Loja dos Antigos era composta em quase toda a sua totalidade por Maçons irlandeses residentes em Londres e adjacências e que eram contrários às novas regras inseridas pela Primeira Grande Loja (dos Modernos), preferindo trabalhar segundo o ditame tradicional da época – o direito de formar Lojas “livres”.
Naquela oportunidade a Primeira Grande Loja já se encontrava composta, em sua quase totalidade, pela aristocracia, fator que a diferenciava dos Maçons irlandeses, preponderantemente estabelecidos dentro dos tradicionais princípios e costumes da Franco-Maçonaria hauridos da sua terra natal – exasperava-se o antigo sentimento de irritação entre irlandeses e ingleses, fato que, de modo geral, embora atualmente amenizado, perdura até os dias de hoje (católicos e protestantes).
Da mesma forma, também não escaparia a Grande Loja dos Antigos a enfrentar as dificuldades inerentes aos primeiros tempos de oposição a Primeira Grande Loja (dos Modernos). Com um número inexpressivo de Obreiros em relação à Loja rival, que apesar do desagrado já contava com um grande número de Lojas – cerca de 80 -espalhadas pela Inglaterra, passaria a sofrer uma legítima transformação a partir de 1752 com Laurence Dermott5, cujo nome viria ser o verdadeiro sustentáculo da história dos “Antigos”.
Dermott, rígido disciplinador e observador dos princípios e costumes da antiga Franco-Maçonaria, conseguiu persuadir uma grande parte de Maçons desiludidos com as mudanças produzidas pelos “Modernos” a se unirem aos autodenominados “Antigos”, conseguindo, já ao final de 1755, a adesão de aproximadamente 46 Lojas, reforçando a oposição em detrimento da antiga tradição.
Em 1756 era então publicado um livro intitulado “Ahiman Rezorf6”, de autoria de Dermott, que seria uma espécie de Constituição regente da Grande Loja dos Antigos, cuja propaganda denunciava a depravação dos costumes da pura Maçonaria produzida pela Primeira Grande Loja (Modernos). O livro também trazia um conjunto de “Antigas Obrigações” embasadas em grande parte nas Constituições Irlandesas de 1751, ressaltando uma extrema alma teísta contrariando o feitio, embora também teísta, todavia mais liberai, daquele apregoado pelos “Modernos”.
Esse fato acabaria por orientar principalmente incriminações e críticas dos “Antigos” contra a forma descristianizada dos Rituais, da supressão das preces e celebrações dos dias santificados, praticada pela Primeira Grande Loja.
Com certa perspicácia Dermott apregoava o elo entre os “Antigos” da Grande Loja e a lendária Constituição do príncipe anglo-saxão Edwin, filho do Rei Athelstan, que teria convocado a Convenção de York realizada em 926, para aprovar uma Constituição que seria a lei norteadora dos Franco-Maçons, comumente conhecida como a “Carta de York”. Com esse estratagema, os “Antigos” se autodenominavam como “Maçons de York”, já que a velha cidade de York na Inglaterra é tomada como o mais antigo centro operativo organizado, cabendo-lhe o título de “Meca da Maçonaria”.
Cita o Irmão José Castellani: “Era sem dúvida um expediente psicológico, desde que muitas vezes antiguidade é – inclusive até hoje – confundida por alguns, com autoridade entre os Maçons, e a frase “desde os tempos imemoriais”, casada perfeitamente com a intenção de respeito pela decantada antiguidade, levando os ”Antigos” a ridicularizar os “Modernos” como “um ninho de inovadores e inventores maçônicos”.
Mais um grande impulso para essa consolidação ocorreria através da participação da nobreza a partir de 1771, com o acesso ao Grão-Mestrado dos terceiro e quarto Duques Atholl, os quais dirigiriam a Grande Loja dos Antigos por um período de 31 anos, o que fez com que a Grande Loja ficasse também conhecida como “The Atholl Grand Lodge”.
NOTA – Essa tradição atribuída por Dermott era mesmo apenas um artifício por ele usado no sentido de afirmar o caráter de antiguidade e autenticidade da sua Grande Loja, portanto, não deve ser tomada ao pé da letra como uma realidade histórica. Para uma melhor apreciação sobre o tema, ver dentre outros; “The Builders – A Story and Study of Freemasonry”, Newton. J. F. – McCoy; “Análise das Constituições de Anderson”, Castellani, José, Editora “A TROLHA”; “Masonry: Pure & Applied”, Morgan, Michael, Collected Prestonian Lectures; “English Freemasonrv) in Europe 1717-1919″, Brodsky, M. L., Collected Prestonian Lectures; ”Understanding The Royal Arch”, Sandbach, Richard, Q.C.C.C. Limited, London.
Nesse panorama edificado desde 1717, com a fundação da Primeira Grande Loja (Grande Loja de Londres) e de 1751, com a fundação da Grande Loja dos Antigos, que a Maçonaria viria sofrer uma paulatina, mas radical transformação, tanto no sentido da tradição, dos usos e dos costumes, como no campo da organização e da construção social. Os embates produzidos entre os “Modernos” e os “Antigos” viriam ao longo dos anos desaparecerem dando lugar às Lojas de Reconciliação, consolidando-se, sobretudo, a maneira inglesa, partindo de uma organização cautelosa, porém perene com a participação da Real Coroa.
Com dois irmãos de sangue da realeza inglesa no comando das duas Grandes Lojas rivais, Duque de Sussex e Duque de Kent, em 1813 um extenso documento delineava as condições de união para o governo de uma nova corporação. Em 25 de novembro de 1813, em assembléia das duas Grandes Lojas era declarada, através do artigo VI, que a Grande Loja Incorporada deveria ser aberta sob o título de “United Grand Lodge of Ancient Masons of England”, Em 27 de dezembro de 1813, em uma grande assembléia de Maçons, era então assinado o “Act of Union”, sendo a nova entidade proclamada como a “Grande Loja Unida da Inglaterra”.
Evidentemente ambas as partes cederam em alguns pontos para que se chegasse a um denominador comum num conceito de trabalho que abordava certa modernidade, todavia respeitando as tradições, usos e costumes impostos, sobretudo pela linha dos autodenominados Antigos, o que viria se constituir na espinha dorsal da administração de um poder central e da forma prática dos trabalhos expressos pelas Lojas Inglesas.
Por esses aspectos a Moderna Maçonaria assumiria uma consolidação especulativa tomada pelas transformações sociais, tal como a Reforma religiosa, os Livres-Pensadores, o Iluminismo e o Século das Luzes, a Revolução Francesa e as idéias libertárias, entre outros.

Nesse sentido, a aristocratização da Maçonaria e um novo conceito filosófico na idéia da transformação do Homem, trouxe, principalmente no século XVIII, novas linhas de pensamento absorvidas pela cultura humana para o seio das Lojas, enriquecendo principalmente o aparecimento de formas doutrinárias específicas ditadas por normas privativas de trabalho maçônico, mais comumente conhecido come Ritos.
Os Ritos, ou na Maçonaria inglesa rotulados como Trabalhos, assumiriam uma forma rica e peculiar na formação de um ideário maçônico através de Símbolos e alegorias, muitas vezes peculiares E certa forma de trabalho, muito embora um tronco simbólico de sustentação seja peculiar a toda a Maçonaria Simbólica.
Evidentemente, não é o mote deste Trabalho abordar todo o simbolismo maçônico, fato que seria por demais exaustivo e demandam de um longo espaço para tal exposição, além de um demasiado tempo para pesquisa e aprimoramento das diversas opiniões sobre o assunto. Entretanto, poderemos tomar como ponto de partida a exposição e exegese de alguns Símbolos que estão condensados nos Painéis do Rito Escocês Antigo e Aceito, vertente da Maçonaria francesa e do Trabalho de Emulação, vertente da Maçonaria inglesa, onde serão abordados alguns fatos históricos inerentes ao conjunto, assim como a interpretação individual mais aproximada do significado e da razão de ser dos conjugados conhecidos como “Painéis de uma Loja de Aprendiz”.
Notas:
1 – Em nome da segurança de informações sobre a Maçonaria, George Payne, após a compilação por Anderson de aproximadamente oitenta textos das ‘Old Charges”, literalmente as incinerou. Embora essa preocupação na época até possa ser considerada correta, para a historiografia foi um prejuízo
sem precedentes.
2 – Constituição de Anderson – A época publicada sobre o faustoso título; “As Constituições dos Franco-Maçons, contendo a História, Obrigações, Regulamentos, etc., da Muito Antiga. Correta e Venerável
Fraternidade, para Uso das Lojas”.
3 – Essas modificações refletiam um novo pensamento esclarecido que já se fazia presente prenunciando mudanças sociais e políticas advindas das luzes do esclarecimento (Iluminismo) que se espalhava pela Europa por parte de idealistas, pensadores e filósofos franceses contrários ao obscurantismo ainda latente da Idade Média. Na Inglaterra a reforma religiosa era fato consolidado pelo Anglicanismo, embora de origem Católica.
4 – Cinco Lojas – Mantinham nomes de tavernas e cervejarias: “The Turk’s Head” (Cabeça de Peru), em Greek Street, Soho; “The Criplle” (O Coxo), em Little Britsin; “The Cantion” (O Canhão), em Water Lane, Fleet Street; “The Plaister” Arms” (Braços de Gesso), em Grays lnn Lane; “The Globe” (O Globo), em Bridges Street, Covent Garden – in McLeod, Wallace, “The Collected Prestonian Lectures”, Londres, 1975-1987, p. 130.
5 – Laurence Dermott – Irlandês, pintor e decorador de edifícios, nascido em Dublin no ano de 1720. Maçom, Iniciado em 1740, com 20 anos de idade, sendo instalado como Mestre da Loja n° 26 em Dublin no ano de 1746.
6 – Ahiman Rezon – Do hebraico: ahim = Irmãos; manah = escolher” e ratzon = lei, A frase significa “Conselho dado a um Irmão” (Castellani, José e Rodrigues, Raimundo – “Análise, da Constituição de Anderson”, p. 35, “ATROLHA”. 1995).
Juk Pedro. Exegese simbólica para o Aprendiz Maçom. 1ª ed. Londrina:
Ed. Maçônica “A TROLHA”. 2002. http://www.atrolha.com.br

 

Fonte: JB News

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