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O Encanto do Iluminismo

Depois das mudanças na cultura do homem, promovidas pelo desenvolvimento intelectual do Renascimento (século XIV), marcando a transição da Idade Média para a Idade Moderna, que sucedeu à Idade Média (fim da Idade Antiga até o início da Idade Moderna – 1453), a decadência do pensamento barroco, deu lugar ao arcadismo, em 1700.

O termo Barroco significa “bizarro” e é de origem francesa. Mas o “estilo barroco”, um estilo arquitetônico que se desenvolveu desde o fim do século XVI e perdurou até meados do século XVIII, surgiu na Itália.

O Barroco foi uma reação ao estilo Clássico que, no final do Renascimento, perdia seu vigor como beleza artística. Com a decadência do Barroco, surgiu o Rococó, não como estilo arquitetônico, mas, ornamental, que os críticos da arte consideram de mau gosto, devido a seus ornamentos espalhafatosos e à profusão de curvas caprichosas. A glória maior do Rococó foi na França de Luiz XV (1710-1774).

Quando aportou em Portugal, o Barroco recebeu o nome de “Estilo D. João V ou Jesuíta”. No Brasil ficou conhecido como “Colonial”. No entremeio do Barroco e do Rococó, reinou o Arcadismo.

O Arcadismo (de Arcádia, região central do Peloponeso – península da Grécia), deu origem às academias literárias, existentes ainda hoje, e cultivava, principalmente, a poesia bucólica, como os poetas de Vila Rica, em Minas Gerais, Brasil.

O Arcadismo veio acompanhado do Iluminismo, período no qual a visão teocêntrica girava em torno da religião Católica somente. Com a chegada do Iluminismo, os ventos da Europa mudaram de rumo, anunciando uma profunda renovação social, política, científica e religiosa.

Como movimento intelectual, o Iluminismo trazia o sentido de liberdade e progresso para o homem. E seus ideólogos pregavam a substituição das “trevas” da ignorância, pela “luz” (conhecimento) do poder da razão (ciência), para iluminar os aspectos “escuros” da Idade Média e da intermediação da igreja entre o homem e Deus, pela ida, direta, do homem a Deus. O Iluminismo, cujos ideólogos pregavam a existência de uma sociedade, para proporcionar felicidade, justiça e igualdade entre os homens, condenavam, também, o absolutismo, o mercantilismo e a imposição da Igreja.

Esse movimento de renovação cultural, uma corrente de pensamento, um conceito que sintetizou diversas tradições filosóficas, correntes intelectuais e atitudes religiosas, com ênfase no progresso, na liberdade de pensamento, na emancipação política, no poder da razão, o “Primado da Razão” (a razão – ciência – sobre a ignorância, a superstição e a aceitação crítica da autoridade, comuns, durante a Idade Média), que abominava a ignorância, ocorreu entre a Revolução Inglesa de 1688, chamada “Revolução Gloriosa”, e a Francesa de 1789, devido à intransigência da monarquia, que não cedia às reformas.

Os iluministas assumiram integralmente as ideias do filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), barão de Verulam, que foi chanceler da Inglaterra, e que pregava abertamente que “conhecimento é poder”.

O feudalismo dava seus últimos suspiros na Europa e as monarquias absolutistas estavam no apogeu. A burguesia, dominadora, que ganhava força nas cidades, detestava a autoridade do rei, o poder da Igreja e os privilégios do clero, aliados às petulâncias da nobreza.

O apogeu do Iluminismo se deu com a ascensão e consolidação da burguesia na Grã-bretanha, nos Países Baixos e na França, graças à influência dos escritos de Voltaire, Denis Diderot, Jean Le Rond d’Alembert, o suíço Jean-Jacques Rousseau, René Descartes e outros. Tinha, como principal característica, “creditar à razão a capacidade de explicar racionalmente os fenômenos naturais e sociais e a própria crença religiosa”. E, embora pregasse a igualdade dos homens, como conceito social, na literatura o Iluminismo apoiava o neoclassicismo, inspirado em frases latinas do poeta romano Quintus Horatius Flaccus, mais conhecido como Horácio (65-8 a.C.), que dizia: “Fugere Urben” (fugir da cidade) e “Carpe Diem” (aproveite o dia).

No Ancien Régime (Antigo Regime), principalmente na França, a sociedade era dividida na seguinte ordem de importância e poder: clero, nobreza, burguesia e trabalhadores da cidade e do campo. E o objetivo do Iluminismo foi mudar tudo isso.

O termo “Iluminismo”, pois “iluminava” os aspectos “escuros” da idade Média, com a “luz” da razão da Idade Contemporânea, significa Esclarecimento, Ilustração.

Na França, ficou conhecido como o Siècle des Lumières (Século das Luzes); na Alemanha, Aufklärung (Filosofia das Luzes, Iluminação) e, em uma melhor conceituação, “o homem iluminado pela própria razão”; na Grã-Bretanha, Enlightenment (Esclarecimento); na Espanha, Ilustración (Ilustração); e na Itália, onde sua influência maior foi nas cidades de Nápoles e Milão, Illuminismo mesmo (com dois eles). Esses termos designavam uma época da história ocidental essencialmente rica e intelectual, e sua síntese estava nas diversas tradições filosóficas, correntes intelectuais e atitudes religiosas incoerentes, cuja aceitação era contestada pela elite intelectual, que ansiava por transformações.

A inspiração para o Iluminismo francês foi a liberalidade política inglesa, que muitos filósofos franceses, em visita à Inglaterra, encontraram, com mais intensidade lá, do que na França. Eles ficaram encantados, por exemplo, com a ciência natural daquele país. De volta à França, começaram a se rebelar contra o autoritarismo real e, logo depois, o poder da Igreja Católica e da aristocracia. Mas, o início, como movimento, foi mesmo na França, de onde se espalhou por toda Europa, principalmente pela Alemanha, no final do século XVII, no apagar das luzes da Idade Média. Os ideais iluministas ajudaram a promover a Independência dos Estados Unidos da América (1775-1783), libertando-se do domínio inglês e, no Brasil, a Inconfidência Mineira (1789).

Em Portugal, o Iluminismo encontrou apoio em Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal (1699-1782), ministro do D. José I e ex-embaixador na Inglaterra, de 1738 a 1745. Em sua tarefa de renovação cultural, em 1759, expulsou os jesuítas, fundou escolas e tirou o ensino da tutela da Igreja.

Foi o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), quem sintetizou de maneira brilhante, o lema do Iluminismo. Ele disse: “O Iluminismo representa a saída dos humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem, quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento, mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da sua própria razão! – esse é o lema do Iluminismo”. [NB]

No Brasil, o Iluminismo possibilitou importantes mudanças no conceito social de então. Em primeiro lugar, a cultura dos jesuítas, com base no autoritarismo da Igreja Católica da Idade Média, deu lugar aos ventos do neoclassicismo, surgido na Itália, no fim do século XVIII, espalhando-se aos países vizinhos, perdurando por cem longos anos (de 1750 a 1850). Seu objetivo foi restituir a beleza e as formas clássicas à arquitetura e à pintura, e à harmonia das formas plásticas do corpo humano. Em segundo lugar, Minas Gerais e Rio de Janeiro se destacam no cenário político nacional como centros de relevância política, econômica, social e cultural. Estudantes brasileiros descobrem a Europa para sua formação acadêmica.

Se olhada para outra direção, a arte emergente do Iluminismo foi o retorno à simplicidade clássica.

Originado na Inglaterra, Holanda e França, o Iluminismo inseriu-se no contexto histórico das outras nações, tendo como ponto de referência o período da Renascença (século XIV), com a descoberta da razão, como a chave para compreender o mundo. Desses países, chegou aos demais, como Escócia, Estados Unidos, Rússia, Polônia, Áustria, Grécia e Bálcãs. Seu apogeu se deu no começo do século XVIII, que ficou conhecido, também, como a Era dos Cafés, da palavra ágil e contestadora (o século XVII foi chamado a Era da Taberna, do álcool e da embriaguez). O século XVIII, veio a ser conhecido como o “Século das Luzes”, uma época de grandes transformações tecnológicas, como a invenção da máquina a vapor e do tear mecânico, principalmente, caracterizando, assim, o fim entre o feudalismo e o capitalismo, o que possibilitou a formação do lema iluminista da Revolução Francesa: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.

Os principais precursores do movimento foram o matemático e filósofo francês, René Descartes (1596-1650), considerado o pai do racionalismo, e o cientista inglês Isaac Newton (1642-1727). Mas, tudo começou com a determinação do físico e matemático italiano Galileu Galilei (1564-1642), fundador da ciência experimental na Itália, que devolveu à ciência, sua importância primordial: a pesquisa experimental. E, de Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano alemão que, em 31 de outubro de 1517, reagindo às pretensões de Roma, prega suas 95 teses ou proposições, relativas à doutrina e aos abusos da Igreja Católica, na porta da igreja do castelo ducal de Wittenberg, onde eram afixados os avisos da Universidade. Nelas, ele renegava o absolutismo papal, em matéria de fé, principalmente, diante do escândalo da venda das Indulgências (venda de perdão dos pecados e faltas menores), a “Questão da Indulgência”, cuja finalidade era arrecadar dinheiro para a construção da Basílica de São Pedro, em Roma, e pagar dívidas que Alberto, arcebispo de Brundenburg, tinha com o papa. Com a venda das Indulgências, metade do dinheiro ia para Alberto e metade para o papa, como pagamento da dívida de Alberto.

Em 15 de junho de 1520, em sua bula Exsurge Domine (Erguei-vos, Senhor), carta-patente dos papas para assuntos de grande importância, o papa Leão X (1513-1521), declara Lutero herege, por ter-se afastado dos princípios fundamentais e recusado os dogmas de fé da Igreja Católica, dando-lhe um prazo de 60 dias para retratar-se de 41 das 95 teses por ele defendidas.

Mas, em 10 de dezembro de 1520, Lutero, que dizia que o papa era “o demônio que estava sentado na cátedra de Pedro” queimou, em praça pública, uma cópia da bula, juntamente com alguns volumes do Código do Direito Canônico.

Em 1521, perante a Dieta (assembleia dos príncipes e bispos alemães), convocada por Carlos V (1500-1558), Imperador do Sacro (Santo) Império Romano e rei da Espanha, a pedido do papa, na cidadezinha alemã de Worms (Weimar), Lutero confirma, oficialmente, sua posição de insurgente e se desliga da Igreja Católica, o que deu início ao luteranismo.

Devido à sua intransigência, foi excomungado dois meses depois e desterrado do império. Fugiu e encontrou apoio em Frederico da Saxônia, hospedando-se no Castelo de Wartburg, onde, entre outros escritos, traduziu a Bíblia para o alemão.

Lutero abandonou o sacerdócio em 1524 e, em 13 de julho de 1525, casou-se com a ex-freira Catarina von Bora, com a qual teve seis filhos. Morreu aos 63 anos de idade, em Eisleben, Saxônia, pequeno povoado onde havia nascido. É considerado o “Pai da Reforma” protestante.

Além deles, temos os chamados “filósofos do Iluminismo”: o médico e filósofo inglês, John Locke (1632-1704), considerado o “pai do Iluminismo”, que participou da Revolução Inglesa de 1688; os franceses Voltaire, pseudônimo literário de François Marie Arouet (1694-1778), o crítico da igreja e da intolerância religiosa, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Charles Louis de Secondat, Barão de La Brède e de Montesquieu (1689-1755), o mais radical do movimento (contestou a propriedade privada), e Denis Diderot (1713-1784). No entanto, o pai do movimento foi mesmo John Locke, embora o mais notável dentre eles, tenha sido o filósofo e sacerdote Etienne (Estêvão) Bannot de Condillac (1715-1780), o francês que foi preceptor na corte de Fernando (Ferdinando) de Bourbon, herdeiro do trono e filho de Carlos III (1716-1788), rei da Espanha, filho de Filipe V (1683-1746), duque de Parma, Itália. Os Traité des SensationsTraité dês SystèmesTraité de Raisonner, entre outros, são de autoria de Condillac. Mas, todos eles pregavam ideias que, juntas, deram ao Iluminismo a consistência de uma verdadeira revolução intelectual na França.

Os Bourbons da Itália e Espanha eram da mesma família real francesa, cuja ascendência remonta ao conde Robert de Clermnont, sexto filho do rei São Luiz IX (1215-1270), senhor do castelo feudal de Bourbon-l’Archambault. Eles formaram importantes dinastias na França, Espanha e Nápoles.

Locke dizia que o homem nasce sem ideia e que o conhecimento é adquirido por meio dos sentidos. Rousseau pregava a formação de um Estado, governado pela vontade do povo. Ele dizia que “o homem nasce bom” e sem vícios e, depois, corrompido, torna-se pervertido pela sociedade civilizada, “devendo, portanto, retornar para a natureza”. Defensor da pequena burguesia, Rousseau inspira a Revolução Francesa.

Montesquieu era mais radical: pregava a separação dos três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) do Estado. E Diderot, ao lado do físico e filósofo, Jean Le Rond d’Alembert (1717-1783), organiza uma enciclopédia, na qual reuniu os conhecimentos científico e filosófico até então.

Diderot e d’Alembert planejaram a L’Encyclopédie (Enciclopédia) em 1750, obra magna do pensamento iluminista. Tanto Diderot quanto d’Alembert, eram filósofos e matemáticos franceses. O título era Dictionaire Raisonné des Sciences, des Arts, et des Métiers, Enciclopédia ou Dicionário Racional das Ciências, das Artes e dos Ofícios, dirigida, de 1751 a 1754, por d’Alembert e, a seguir, por Diderot. Após sua publicação, a L’Encyclopédie sofreu violenta reação da Igreja Católica, que os iluministas criticavam e, também, de grupos ligados à ela, que a classificaram como racionalista e materialista, visto ser a Enciclopédia uma “obra de referência que exprimia concepções políticas revolucionárias”. Mesmo assim, durante vinte anos, entre 1751 (ano da publicação do primeiro volume) e 1772, foram publicados 17 dos 35 volumes concebidos de textos e 11 de pranchas de ilustração, encerrando a obra inteira.

Diderot selecionou 139 colaboradores, o melhor da elite intelectual da França, para a vitoriosa tarefa. Os mais importantes colaboradores foram Montesquieu (leis), Voltaire (literatura, elegância, história, espírito e imaginação), Lamarck (botânica), Helvetius (matemática), Condillac e Condorcet (filosofia), Rousseau (música), Buffon (ciências naturais), Quesnay e Turgot (economia), Holbach (química) Diderot (história da Filosofia) e D’Alembert (matemática).

É por isso que os iluministas também são chamados de “enciclopedistas”. Mas, além da Enciclopédia, muitos livros e panfletos foram publicados nesse período. Quando eram censurados ou queimados na França, por ordem judicial, os iluministas faziam edições clandestinas na Holanda, que depois eram contrabandeadas para a França.

Os enciclopedistas propunham a imediata separação da Igreja do Estado, combate às superstições e aos pensamentos mágicos, como as instituições religiosas. E, mesmo com a censura e condenação papal, o Iluminismo influenciou o mundo intelectual e inspirou o movimento social que originou a Revolução Francesa de 1789.

A grande contribuição da Enciclopédia foi que ela buscou definir, no homem interior, as rupturas necessárias, com base na autoridade intelectual. Sua finalidade foi “reunir os conhecimentos esparsos sobre a terra, expor seu sistema geral aos homens de seu tempo e transmiti-lo às gerações futuras, a fim de que aquilo que foi realizado no passado não caia no esquecimento. Assim, tornando-se mais instruídos, os homens serão certamente mais virtuosos e felizes”.

A maior parte dos iluministas era constituída de deístas. Como tal, eles acreditavam que Deus, depois de criar o Universo, deixou-o sozinho, à sua própria sorte. Seu maior expoente francês foi Voltaire. Na Inglaterra, Cherbury (não confundir com Cherbuliez -1829-1899 – escritor suíço) e Cudworth, Locke e Tindal. Na Alemanha, Reimarus, que não admitia atributos intelectuais e morais em Deus.

Anticlerical, o Iluminismo criou uma encrenca danada com a Igreja Católica, ao condenar a intermediação desta entre o homem e Deus, além de pregar a separação entre a Igreja e o Estado. Mesmo assim, eles criam piamente em Deus.

Há quem veja o Iluminismo sob dois aspectos distintos:

Primeiro: como doutrina de natureza místico-religiosa, onde se aninharam os chamados “iluminados” da inspiração sobrenatural, com o apoio de diversas seitas. Essa corrente surgiu no século XV, na cidade de Toledo, Espanha, mas, com raízes no misticismo francês da época medieval, cujo elemento essencial da civilização ficou conhecido como Cristandade. Da Espanha passou para a França, Alemanha e Bélgica, onde seus adeptos viviam em permanente estado passivo de, segundo eles, aproximação à divindade. Acredita-se que essa corrente tenha se ligado ao luteranismo alemão. Mas, depois de 1570, nada mais se soube deles.

Segundo: como movimento cultural-filosófico. Mas, não há uma unidade isolada que justifique seu surgimento, visto fatores diversos terem contribuído para sua formação, como países e pensadores diferentes, correntes humanistas, naturalistas, criticistas e expoentes como John Locke, Pierre Bayle (1647-1706), considerado o fundador da crítica histórica, Gotthold Ehpraim Lessing (1729-1781), Johann Gottfried von Herder (1744-1803), Voltaire, caracterizando o fim entre o feudalismo e o capitalismo, Claude Adrien Helvetius (1715-1771), Denis Diderot, Charles Louis de Condorcet, Barão de La Brède e de Montesquieu, Paul Heirich Dietrich, barão de Holbach (1723-1789) e Kant.

A característica do Iluminismo é a fé “nas luzes” da chamada razão humana, livre das idiotices das pesquisas dos problemas metafísicos, conhecidos até então. Surgia, daí, a teorização da liberdade humana. E, destacando-se, as político-econômicas e sócio-religiosas, contrapondo-se aos obsoletos limites das superstições, da tradição e autoridade, do progresso dos mais fortes e poderosos e, principalmente, intelectuais.

O ponto de partida foi a liberdade de pensamento e a emancipação política, que pôs fim à supremacia da burguesia feudal e criou uma nova visão da vida e desenvolvimento social. Todavia, a maior façanha do Iluminismo, no campo do conhecimento intelectual, foi a publicação e difusão da Enciclopédia, obra de referência, que exprimia a síntese do pensamento revolucionário dos “iluminados”. Os iluministas davam valor absoluto à razão, em detrimento a toda e qualquer forma de crença. Salvou, no entanto, sua definição religiosa, na qual o Iluminismo se baseia “num contato imediato com a divindade, fonte da luz intelectual”.

Mas, é bom lembrar que, durante o século XVIII, efetuou-se certa dessacralização da história, que passa a ser compreendida como uma trajetória vitoriosa e puramente humana, ou seja, destituída da ação divina. Em outras palavras, pelo conhecimento humano somente, pela luz da RAZÃO – ciência (daí, Iluminismo), com capacidade de esclarecer qualquer fenômeno.

Esse mesmo Iluminismo foi subdividido em diversos micro-iluminismos, diferentes no tempo, nas regiões e nos ideários religiosos, chamados de “iluminismo tardio”, “iluminismo francês” e “iluminismo espanhol”, etc.

O Iluminismo defendia o domínio da razão, sobre a visão teocêntrica (Deus, como centro de tudo), posição defendida pela Igreja desde a Idade Média, cuja humanidade havia encontrado refúgio na fé (elemento da civilização conhecido como Cristandade), com o propósito de “iluminar as trevas” em que se encontrava a sociedade, presentes no antigo regime, no absolutismo político, no mercantilismo, na sociedade rural, no homem, como súdito do rei e na sociedade estamental (dividida em estados com funções sociais definidas), como a aristocracia e o clero, que mantinham seus privilégios através das tradições medievais. O fim das trevas veio com o início da Idade Contemporânea, com a Modernidade.

O Iluminismo possibilitou as revoluções burguesa e industrial que, com suas luzes, primado da razão, dúvida metódica, crença nos direitos naturais, liberalismo político e econômico, antimonárquico, anticlerical e antimercantil, igualdade de todos perante a lei, crítica aos dogmas, criou um novo mundo de ideias e pensamentos. A luz da “Razão” tornou-se o centro dos debates do século XVIII, como uma “luz natural”, em oposição à fé, tida como uma “luz sobrenatural”. Embora, tal qual a ciência, a razão e o chamado “otimismo pedagógico”, tornaram-se marcas visionárias do Iluminismo.

Voltaire, crítico da Igreja, do clero, da servidão feudal e da censura, disse que “a função da luz é dissipar as trevas”. E Kant, exaltando a presença dos dissipadores de luz no Iluminismo, disse que “o Iluminismo é o ato do homem sair da menoridade” de pensamento. Mas, essas mesmas luzes, que tanto Voltaire e seus colegas acenderam, para brilhar muito no século XVIII, chegaram ao século XIX sem brilho, sem intensidade, “iluminando menos do que prometeram”, diminuídas pela contestação do marxismo (crítico do liberalismo), nietzscheanismo (crítico do cristianismo) e freudismo (crítico do racionalismo).

Os iluministas defendiam que a razão deveria substituir as crenças religiosas. E, devido a esse posicionamento, buscaram respostas que, até então, eram encontradas e justificadas, apenas, pela supremacia da fé (Igreja Católica).

O triunfo do Iluminismo foi libertar-se da tutela dos reis e dos pontífices de Roma e a “consolidação do liberalismo político em grande parte do Ocidente a partir do séc. XIX. O antigo regime ruiu, o poder da aristocracia desapareceu e a burguesia assumiu o controle do Estado liberal”.

O movimento foi o mais duro golpe à ideologia do poder eclesiástico, no intuito de anular, nos cristãos europeus, o domínio da Igreja Católica sobre eles. Além do mais, o encanto do Iluminismo foi a colocação de Deus no coração do homem, sem a intermediação da igreja.

E esse é o Encanto do Iluminismo.

Autor: Fernando de Almeida Silva

Fonte: Blog do Bianchi

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