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MISTÉRIOS ANTIGOS SOB UMA BRISA RACIONAL

Mistérios Antigos! Não há maçom, em todos os cantos do Planeta, que não saiba que foi a Franco-Maçonaria a esponja que, não só os absorveu e reteu, como também depois de espremida os solta em catapulta. A este reservatório da ciência antiga, todos os historiadores da F-M designam por Mistérios Antigos e tem sido alvo de milhares de páginas escritas, de conferências ditas e de tema de debates em associações secretas ou abertas, tudo com um cunho muito filodóxico e quase nada filosófico.
Devido ao seu cariz oculto, misterioso e divino, pergunto aos MM:.QQ:.IIr:. se o que sabemos sobre eles corresponde mesmo ao que eram? Depois da leitura e análise de dois livros (The Biggining of Francmansory de Frank Higgins escrito em 1916 e Contre Histoire de la Philosophie de Michel Onfray escrito em 2006) uma brisa carregada de fragmentos racionais percorreu-me a alma e o corpo não sendo, por conseguinte, esta análise, nem idealista nem transcendental lembrando-me de Demócrito quando afirmou que tão ou mais importante que procurar o prazer é impedir o seu correlato, quer dizer, o desprazer.
Começo pelos princípios dos princípios, a ver:
1- Todos concordamos que os mistérios antigos não são senão a gnose dos tempos primevos que, por tal, são vagos e apetecendo mesmo dizer que quase incompreensíveis. Os antigos estavam convencidos que a complexidade dos fenómenos físicos não estava acessível ao entendimento de todos os homens criando uma espécie de exame moderno a que chamaram Iniciação que filtrava os interessados através de símbolos (a expressão mais corrente nesses tempos idos, ou seja, uma espécie de proto-linguagem).
2- Civilizações muito mais antigas que a dos Gregos como a dos Fenícios, Alto Egipto, Índia, Persas, Caldeus, Assírios, Sumérios e muitas outras tinham nos Sacerdotes os guardiães dessa gnose.
3- Toda a gnose começou por motivos de sobrevivência ou de expansão incindindo na agricultura e no pastoreio a maior influência do surgimento do que hoje se chama de tecnologia. O 1º e o maior dos deuses dos Panteões de todas as raças e épocas foi aquilo que nos tempos modernos chamamos o correcto conhecimento dos Astros tidos como os maiores influenciadores das estações do ano com os seus ciclos repetidos em séries e continuamente. Viraram-se para o Sol, considerando-o o Criador e tendo sido cantado, contado e acrescentado em múltiplos ecos da imaginação humana que está na base das alegorias mitológicas com que hoje os conhecemos.
4- A observação empírica do Astro-Rei deu origem a que o sistema solar se tornasse num extraordinário relógio definindo o tempo, o movimento e a mudança, cíclicos pois claro. Estudar as Revoluções dos Planetas à volta do Sol tornou-se o cronómetro de toda a actividade da raça humana e foi das trajectórias elípticas – as Revoluções – que nasceram as noções de medida e da periocidade que podem ser simbolizadas por uma linha recta dividida em 12 partes (com princípio e fim, portanto) e por um círculo representando a eternidade, logo sem princípio nem fim. A linha recta ficou ligada à matéria e o círculo ao mundo espiritual.
5- Estes conhecimentos empíricos mal aumentaram tornaram-se nos pilares da chamada geometria e mais tarde da aritmética quando se dividiu o círculo em 360 partes ou a recta em finita ou infinita. Como vêem estes fenómenos não são resultado de uma decisão arbitrária, antes fundamentados nos princípios naturais.
6- Sim, MM:.QQ:.IIr:., a filosofia que sustenta e sustentou o aparecimento das deidades é a mesma para todas, vale dizer , o ciclo anual da Terra à volta do Sol, em que extraordinárias metamorfoses acontecem renovando-se a vida bem simbolizadas na juventude dos Equinócios e no poder e glória dos Solstícios. Na realidade, o G:.A:.D:.U:. é a perfeição do Cosmos (bem aproveitado como manifestação de Deus, e digo bem aproveitado porque primeiro havia deuses, uns menores como representantes das forças da natureza e os maiores que deram origem a um deus único). Na verdade, os heróis de lendas e mitos podem ter sido reais ou fictícios e a história onde foram baseados poderá ou não ser comprovada usando-se, para tal, quer vestígios arqueológicos quer a poesia inventiva que sempre inspirou a raça humana resultando assim a história natural no 1º caso e a história dos semideuses no 2º caso, ou seja, em todos os mistérios antigos há sempre uma porção histórica que mal conhecemos e garantida está uma inspiração ampla, complexa e diversa.
Com efeito, na história evolutiva da raça humana não há senão um substituto aquando da passagem do Caos para as Formas ordenadas, podendo pronunciar-se como arquitecto do universo, sol, deus, atomismo, matemática, geometria ou mesmo qualquer nome impronunciável.
Seguindo o acúmulo dos conhecimentos veio a necessidade de transmitir todas aquelas novidades. Para tal, vejamos o seu percurso:
7- A tradição foi escrita em primeiro lugar nas pedras, ou seja, a arquitectura tornou-se o grande livro manuscrito da raça humana expressando, com exactidão, os seus vários estádios de desenvolvimento, quer físicos quer mentais. Não podemos esquecer que a escrita cuneiforme e os primeiros hieróglifos não eram senão peças copiadas da arquitectura desses tempos.
8- A cronologia da arquitectura evoluiu de acordo com as etapas da inteligência humana sendo, nos primevos tempos, o povo (construção de palhotas, paliçadas, muros de protecção, grutas, etc.) a executá-la e mais tarde, nas civilizações hindu, egípcia, babilónica e outras passou a pertencer a responsabilidade a castas que tinham em comum, não só um patrono cujo intérprete era o sacerdote, mas também a unidade dogmática num deus. Já mais perto da nossa Era (Fenícios, Gregos e Romanos) a arquitectura tinha em comum a liberdade, a inventiva humana e assim dando origem a vários patronos (mercadores nos fenícios, republicanos nos gregos e burgueses na era gótica) que edificaram a sua santidade em opulentas construções.
9- No Séc. XV, o pensamento humano descobriu uma nova maneira de perpetuar-se a si mesmo substituindo a arquitectura, quer dizer, esta foi destronada pelas letras impressas tornando-se mais durável, resistente e, sobretudo, mais simples e fácil de atingir. Nasce assim a arquitectura popular diversa, progressiva, separada da religião, próxima da humanidade e promovendo a acessibilidade a qualquer espírito, inteligência ou imaginação, vale dizer que o simbolismo ficou mais fácil de ser interpretado.
Para terminar esta história evolutiva é pertinente relembrar que para destruir um livro basta uma tocha mas para destruir um edifício é necessário uma revolução social ou mais modernamente um grupo de jhiadistas que, muito provavelmente e em contra-natura, têm o intestino grosso anastomosado ao cérebro.
Onde entra, então, a F-M na preservação dos chamados mistérios antigos que, bem racionalizados, são seguramente muito antigos e muito pouco misteriosos? Vamos ver:
10- Para mim, a maçonaria possui o mais estupendo segredo, nunca irreconhecível ou desconhecido, por ser constituído pela preciosa herança resultante do antagonismo que brâmanes da índia, drusos sírios, Zoroastras persas, igreja de Roma, sufis muçulmanos ou lamas do Tibete (quer dizer, desde que a deidade foi inventada) lhe dedicaram, ou seja, a F-M guardou os mistérios da antiguidade dos faraós desprezados, alternativos da Babilónia e Assíria, druidas da Gália, mitraicos da Pérsia, judeus ignorados e dos excomungados do cristianismo que o establishment sempre recusou, e só a maçonaria dita especulativa a partir do Séc. XVIII decidiu ignorar este mistérios que trancam os tesouros antigos da gnose primeva modificando-os ao jeito pessoal e à pressão social. Não nos podemos esquecer que nem os lapsos através das Eras nem os majestáticos estridores da ciência moderna conseguem torná-los obsoletos criando-se uma espécie de terra de ninguém em que a intelectualidade se abriu aos assaltos das mais selvagens conjecturas triviais.
11- Felizmente que a F-M não possuí as características dos adeptos de qualquer religião, seita, moda, clube ou outros, pois só estes não têm necessidade de colocar questões por acreditarem em catalepsias e clarividências, antes, reservados e iniciáticos, querem atingir a Luz, ou seja, a sabedoria. Recusam mesmo considerar os mistérios antigos (termo inventado modernamente) como o propósito de reunir, numa simples classificação, todas a curiosidades dos ritos, cerimónias e alusões ritualísticas das Eras pré-etruscas. Vão mais além, e sabem que toda a filosofia foi gradualmente construída no facto de a geometria e a matemática terem nascido da astronomia.
12- Analisemos alguns pormenores, tais como: Hermes e Mercúrio serem uma corruptela semântica do Markurios fenício que quer dizer filho do sol; que o deus vivo da cabala é representado pelos símbolos do sulfúrico, mercúrio e sal; que a alquimia tem na tríade alma (sol), corpo (lua) e espírito a base da mente inteligente que constitui o homem; que o hermetismo foi uma fábrica do paganismo filosófico; que a noção de dogma não é ser apenas um conjunto de fúteis conclusões para se encontrar uma finalidade para as coisas e tendo sido inventada pelas classes mais privilegiadas com o fim de governar as massas ignorantes; que a pesquiza das causas levaram o homem a basear-se nas suas percepções sobre as leis imutáveis da natureza através de emblemas e símbolos para decifrarem uma fraseologia obscura com o fim de alcançarem a verdade e os seus valores eternos; que cada mente é um universo em pequeno e uma célula dos cosmos em grande;
13- Enfim, MM:.QQ:.IIr:., quero acreditar que todo aquele que se constrói a si próprio pela via da F-M não se deve limitar à fantástica imaginação e riqueza espiritual dos hebreus que através dos seu Talmude retiram ao Templo de Salomão o seu verdadeiro significado que não é senão ser um reflexo da ciência dos assírios, caldeus, sumérios, babilónicos e outros.
É preciso reflectir para além disso, temos que sentir que o divino se explica melhor por analogias do que por exemplos concretos sabendo nós que as verdades geométricas são a raiz de todas as manifestações visualizadas da existência, e foram estas que, devido à sua complexidade, levaram filósofos e teólogos a navegarem por ocultismos necessários. Assim:
14- Não tenho certezas absolutas, mas para mim o verdadeiro segredo da maçonaria também se revela nos ciclos completos da natureza, nas velocidades relativas, nos fenómenos da luz, nos ângulos e inclinações, na revolução axial solar, nos equinócios e solstícios e no peso atómico dos metais, enfim, tudo expressões, rudimentares ou elaboradas, da perfeição do Cosmos.
15- Tempo, espaço, números e proporções, devidamente simbolizadas pelas circunstâncias de cada Época com que a humanidade se revelou, são a base para eu poder afirmar a natureza e, se calhar, também a deidade. Estando ciente disto não me afundo nem passo por vergonhas se acreditar que o 9 representa a substância primordial (o 3×3 cósmico) e que multiplicado pelos restantes 8 números a soma é igual a 396 que, por sua vez, somado aos dias da gestação humana (270) dá o resultado de 666 que poderá ser um indicador do logos da humanidade.
16- Não fico diminuído se ler, racionalmente, que o cosmos é representado pela fórmula 3×3 em que 3 são os estados da matéria, 3 os modos de se movimentar e 3 as suas dimensões. Não, não me sinto inferiorizado por perceber que os sábios da antiguidade deram ao Pi o nome da proporção divina, pois ele não é senão o factor criativo inseparável da matéria. Não serei acéfalo se entender que o simbolismo dos rituais, apesar de conter factos improváveis, é o que pode conduzir eficientemente a várias conclusões morais.
17- Sim, compreendo bem que, em todas as explicações do mundo, o misticismo tenha sido escolhido para iluminar a natureza do universo apesar de ser argumentado com noções pitorescas de cada povo em cada época; aceito, com naturalidade, que o homem seja o epítomo carnal do universo; que a simetria e a ordem são o que o iniciado aspira aprender utilizando o trabalho sobre a pedra bruta para melhor conhecer ou que o cubo foi escolhido para representar a grande mãe da sabedoria; que a palavra SOL-OM-ON se transformou em Salomão por obra e graça de uma comissão de Rabis alexandrinos no ano de 246 d.C. apesar do seu significado original expressar o Oriente, o Sul e o Ocidente (onde estão localizadas as luzes da loja maçónica), logo alteração cabalística mas de origem caldeia;
18- Aceito também que os templos babilónicos (muito anteriores às tribos abraâmicas) eram autênticas escolas dedicadas à sabedoria, artes e ciências percorrendo-se o caminho da aprendizagem nos 7 andares planetários como exemplifica a Torre de Babel; bem como a F-M tenha ido buscar á natureza do planeta mercúrio (símbolo do mistério) a génese das lojas de S. João ou que os pilares de Porch não são senão vestígios de 12 dolmens verticais à volta do Sol simbolizando a revolução dos planetas.
19- Sim meus irmãos, a uma experiência segue-se outra e o acúmulo delas levam a novas descobertas que são, na realidade, os chamados segredos reais que o iniciado irá descobrir e aprender. A nossa Loja representa o universo a uma escala reduzida e diz-nos a sabedoria antiga que o chão de um edifício deveria ser um paralelograma com o comprimento maior um terço que a largura formando um rectângulo de 12 quadrados iguais de modo a mimetizar o que se passa no cosmos. Diante de tanta grandeza cósmica é natural que o verdadeiro significado para qualquer iniciado seja o de renascer espiritualmente esvaziando-se o egoísmo e fixando a mente na verdade para se promover a expectância. Assim, chega-se mais depressa ao triângulo sagrado da F-M representado alegoricamente pelo Eu, os Outros e o Universo.
MM:.QQ:.IIr::, ficaria aqui convosco pela noite fora empurrado por esta brisa racional que me levou ao significado dos mistérios antigos que tinham por missão ensinar a conquistar o Eu de modo a subjugarem-se vícios e paixões terrenas. A F-M tem sido a grande auto-estrada do entendimento para que a transformação da matéria em vida, e esta na morte e na eternidade, não sejam apenas meros artefactos mas uma sincera regeneração do homem.
A tradição mais antiga foi-nos transmitida antes da escrita com o extraordinário sistema solar a marcar o ritmo da fertilidade e da renovação. Os verdadeiros segredos dos homens sábios e sacerdotes da antiguidade era desvendarem os fenómenos da natureza, sobretudo, a estupenda verdade da miraculosa ressurreição que constitui o ciclo anual das sementeiras e colheitas sob a égide da perfeição geométrica e matemática do universo. Combinar filosofia com astronomia, eis o resumo dos segredos dos mistérios antigos que não são senão o logos solar, e se a Sabedoria e a Força podem ser explicados pela ciência como os vórtices da matéria já a Beleza nos leva ao mundo espiritual e à sua espantosa criatividade.
Termino com uma citação de Michel Onfray que nos diz…a história foi escrita pelos vencedores e o eixo Pitágoras/Platão/Cristianismo/Idealistas Alemães ganhou nitidamente a refrega, contudo, a história dos vencidos existiu e não pode nem deve ser ignorada.
Diógenes de Sínope M:.M:.
Traçado a Or:. de Lisboa, 28 de Setembro de 2015 (E :.V :.)
Bibliographia
-Frank C. Higgins – « The Biginning of Francmansory »-1916
-Michel Onfray – « Contre Histoire de la Philosophie »-2006

 

Fonte: JB News

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