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A MAÇONARIA E O VAMPIRISMO IDEOLÓGICO

Lembro-me de ter aprendido a cantar a Marselhesa em um breve curso de francês que fiz na Aliança Francesa. Não cheguei a aprender bem a língua de Voltaire e Victor Hugo, mas recordo com saudade a emoção que a letra e o tom marcial desse hino me inspirava.
Nos eventos oficiais é cantado somente a primeira estrofe e o estribilho desse sensacional hino. Mas a letra dele é tão comprida quanto o nosso glorioso Hino Nacional Brasileiro. Aliás, acho que deveríamos fazer a mesma coisa por aqui. Nas comemorações oficiais cantar apenas a primeira estrofe e o estribilho. Fica mais emocionante.
Da letra oficial da Marselhesa, o que mais gosto é o trecho que transcrevi acima. Porque retrata bem o momento histórico em que esse hino foi composto. Era a época da Revolução Francesa, momento ímpar na história politica do Ocidente em que o povo francês foi ás ruas para mudar um estado de coisas que o incomodava tanto que se tornara insuportável.
A França que emergiu daquela revolução não foi a que o povo desejava. Como bem mostrou o nosso Irmão Victor Hugo em sua clássica obra “Os Miseráveis”, a pobreza e a opressão ainda eram a marca na sociedade francesa cerca de cinquenta anos depois da revolução. Mas não se pode negar que aquele movimento fundou os alicerces do país que os franceses têm hoje. A mesma coisa aconteceu com os Estados Unidos da América, país nascido da luta de um povo e com um projeto de nação que estava na cabeça das pessoas que moravam naquela terra, e não apenas nas cabeças de uma elite vagabunda e descomprometida com os destinos da terra de onde tiravam suas riquezas.
2 – Opinião – A Maçonaria e o vampirismo ideológico
João Anatalino Rodrigues
JB News – Informativo nr. 1.879 – Buenos Aires – domingo, 22 de novembro de 2015 Pág. 5/37
Vejo os povos latino-americanos reclamando de seus governos, esperando deles a solução para os males que eles mesmos criaram. É como delegar aos lobos a tarefa de reconstruir o rebanho de ovelhas que eles dizimaram. Não me admira este novo surto caudilhista que assola os principais países da América Latina. Eles vêm hoje travestidos de lideranças populares de ideologia esquerdista, mas não são nada diferentes dos caudilhos do passado.
Pergunto-me: onde estão os manifestantes, que em 2013 ocuparam as ruas, exigindo mudanças substantivas na cena política, punição aos corruptos, transparência na administração pública e outras atitudes, que se implementadas fossem, fariam do Brasil um país sério? Essas mobilizações foram tão enganosas quanto as campanhas politicas que se seguiram a elas. Prometeram tanto quanto a Dilma e só ficaram nas promessas. Não aconteceu nada por conta disso. Tudo ficou na euforia cívica, no discurso populista e demagógico que os nossos políticos e ativistas sociais sabem articular muito bem. Aliás, na prática, as até pioraram. Os políticos continuam tão ou mais sem-vergonhas do que antes. O clientelismo institucional aumentou, o assembleísmo inócuo e enganador das nossas associações continuam a produzir muito mais histriões do que verdadeiros líderes e por mais que a indignação popular reclame por transformações profundas na nossa sociedade, nada de fundamental acontece para quebrar esse ciclo de monótona repetição de crises que o país se acostumou a viver.
Em nossa visão isso só acontece porque o Brasil é um país cuja organização social e política sempre veio de cima para baixo. A nossa independência foi feita por um príncipe português. Na prática, Don Pedro I apenas deu continuidade á dinastia que nos governava. A nossa república nasceu muito mais em consequência da falta de um herdeiro confiável para ocupar o trono depois da morte de Don Pedro II, do que da vontade política de um povo. E não faz muito tempo éramos obrigados a estudar educação moral e cívica nas escolas, em cartilhas produzidas por uma ditadura militar.
O Brasil é o típico protótipo dos países onde o povo não desenvolveu uma consciência de nacionalidade forte, que o faça sentir-se responsável pelos destinos da nação. O povo vai ás ruas quando se sente incomodado, mas volta para casa logo que encontra alguém que promete resolver os seus problemas. Sempre foi assim. A mobilização popular só consegue levantar caudilhos mais nunca verdadeiros líderes que saibam, de fato, organizar a nação, capaz de dar-lhe um espirito livre, independente, comprometido, capaz de autogerir-se sem precisar, a cada crise, apelar para um “Messias” que venha para salvá-lo.
Esse problema está nas nossas raízes históricas. Recebemos dos nossos colonizadores um modelo de Estado já pronto. Era um modelo fundado no principio do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Assim, uma elite vagabunda e predadora, que construía ricas igrejas com altares folheados à ouro, cunhou uma nação onde o trabalho escravo estava na base da sua economia. Uma elite que ia á missa confessar-se, receber comunhão e outros sacramentos e quando voltava para casa mandava chicotear até a morte um escravo que ousara mostrar uma rebeldia qualquer. Tudo abençoado pelo pároco local.
Era uma elite de nobres (no império) e de coronéis (na república), que pouco ou nenhum comprometimento tinha com o país, pois que as fortunas que amealharam foram obtidas a custo do suor alheio. E foi essa elite que escreveu as nossas Constituições, moldou a nossa filosofia politica, outorgou as nossas leis trabalhistas, e continua, ainda hoje, a nos dizer o que é certo e o que é errado.
Não é estranho que elas façam tudo para que as coisas continuem desse jeito. Por isso pregam e induzem o povo a crer que o Estado deve prover tudo, que o Estado é responsável por tudo, o Estado deve intervir em tudo. E quanto mais Estado na vida do cidadão, melhor. Porque é preciso doar pão e circo para manter o povo no redil. O velho curral nordestino continua funcionando muito bem. Hoje isso tem outro nome (bolsas-famílias, vale-gás, cotas raciais etc), mas o objetivo
JB News – Informativo nr. 1.879 – Buenos Aires – domingo, 22 de novembro de 2015 Pág. 6/37
é sempre o mesmo. Que o povo continue sempre dependente do Estado. Pois é mais fácil manipular quem vive na dependência.
Vejo, por exemplo, muita gente se mobilizar contra a reforma administrativa que o governo paulista está promovendo na educação, realocando escolas. É salutar essa mobilização. Mas não vejo nenhuma associação de pais e mestres ou sindicato de professores, ou qualquer outra mobilização de classe no sentido de assumir, por si mesmos, a responsabilidade pela melhoria da qualidade do ensino. Deixamos os nossos filhos na porta escola e achamos que já cumprimos a nossa obrigação. O que eles aprendem (ou não aprendem) é responsabilidade do Estado.
Vejo nossos sindicatos se mobilizando para garantir cada vez mais benefícios para suas classes. É bom e é direito deles. Mas não vejo ninguém lutar por mais liberdade de negociação entre patrões e trabalhadores. Ao contrário, os trabalhadores buscam, cada vez mais a tutela do Estado. Vejo as pessoas reclamarem dos serviços de saúde. Elas têm razão. São mesmo deficientes. Mas não vejo as comunidades se mobilizarem para salvar suas Santas Casas, que são responsáveis por quarenta por cento dos serviços hospitalares do país.
Enfim, buscamos sempre mais tutela do Estado, e com isso nos entregamos, cada vez mais nas mãos desses vampiros ideológicos, que se travestem de ativistas sociais e líderes messiânicos, para se aproveitar dos sonhos alheios e acumular verdadeiras fortunas, sem nenhum trabalho. Não admira que em um contexto desses surjam as Dilmas, os Lulas, os Cunhas, os Nicolaus Maduro e Hugos Chaves, as Cristinas Kirchner e outros travestis ideológicos que carimbam a si próprios de “salvadores da pátria” e acabam levando-as aos atoleiros onde todas elas se encontram hoje. Esse tipo de liderança é apenas o resultado da nossa falta de protagonismo.
Hoje a França está cantando de novo o estribilho da Marselhesa, por outro motivo. Quiçá, nós pudéssemos cantar algo semelhante, para, mesmo tão tardiamente, realizar uma verdadeira mobilização transformadora. Mas antes disso precisaríamos ter consciência que não precisamos de mais Estado em nossas vidas. Precisamos sim, de mais participação das nossas próprias vidas na vida do Estado.
Aproveito o tema para lembrar que Rouget de Lisle, o oficial que compôs a Marselhesa também era maçom. Tudo isso nos remete a estas considerações, e não posso deixar de sentir de um saudosismo melancólico, ao ver que hoje a nossa Ordem hoje parece um porto desativado, já que as grandes questões nacionais passam ao largo e não mais aportam em nossas Lojas.
Olho a triste realidade que vivemos hoje no Brasil e no resto da América Latina. E não posso deixar de lembrar que por aqui também os principais eventos políticos, sociológicos e econômicos tiveram, no passado, as Lojas maçônicas como verdadeiras incubadoras e os maçons como principais protagonistas. E não me conformo com o fato de que a nossa Ordem tenha de viver desses resquícios do passado e não seja mais capaz de influir na História das nações.
Não é suficiente fazer abaixo-assinados contra a corrupção e vociferar, nas redes sociais, contra os desmandos dos nossos políticos (alguns deles, inclusive, nossos Irmãos). Lembrando o estribilho da Marselhesa, o momento reclama um pouco mais de ação. Só uma sociedade verdadeiramente participativa é capaz de combater o vampirismo ideológico.

 

Fonte: JB News

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