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SOMOS MAÇOM ?

A indagação que faço está intimamente ligada à atual condição e situação da Maçonaria como um todo, pois, se temos uma entidade que se intitula de Sublime Instituição, como sermos maçons e, não apenas, estarmos maçons?
A pergunta tem fundamento na crise que, atualmente, impera no mundo em geral, no Brasil com ênfase e na Maçonaria, como consequência dessa disparidade de comportamentos que existe.
A crise no mundo contemporâneo abrange a ética, a economia, o direito das pessoas, dentre outras, pois, não se conhece ausência de corrupção em nenhum lugar no mundo; na economia vemos a concentração de renda e capital cada vez mais nas mãos de poucos, em detrimento do todo e da Paz; e o direito das pessoas ao bem estar, à saúde, à liberdade, quer de pensamento, quer de ações, tudo se encaminhando para um confronto mundial de forças, com resultados os mais escabrosos e desastrosos possíveis.
No Brasil, não há nem o que se comentar, pois, qualquer tema que se busque, temos o negar de todas as boas qualidades do ser humano, atualmente, desvirtuadas em razão do TER em lugar do SER, como é sabido e como a grande mídia nos passa, em total negação da boa convivência.
Será que a humanidade precisa disso? Será que isso não é a negação de tudo o que os grandes filósofos pregaram, no que foram acompanhados por todos os líderes religiosos do passado, que sempre nos deram muitos exemplos de amor e fraternidade?
E na Maçonaria, o que ocorre nos dias atuais?
Nossa instituição atravessa, atualmente, uma fase extremamente difícil e, até mesmo, perigosa, pois, a persistir os sintomas de sua deterioração, irá se extinguir e, em futuro não muito distante, será apenas um verbete de dicionário, cuja significação será, aproximadamente, a seguinte: “Antiga instituição que abrigava cidadãos proeminentes da sociedade, que visava instaurar, no mundo, a trilogia Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que desapareceu por completo, por incúria de seus adeptos”.
O que se assiste neste momento, em especial aqui no Brasil, é que nossos irmãos convidam os homens com os quais têm interesses econômicos ou políticos, em geral, não levando em consideração tudo aquilo que consta como condição para o ingresso daquela pessoa, como, por exemplo, ser livre e de bons costumes, ou seja, livre de quaisquer amarras a vícios e extremismos, para que possa se modificar, construindo seu templo interior, a fim de servir de bom exemplo no mundo profano; homem dotado de boa convivência social, com impoluta conduta no seio do grupo social onde exerce seu mister e convive, pois, se tiver qualquer falha de conduta, não irá buscar uma nova forma de vida, objeto maior de nossa Maçonaria.
Por falar em objetivo maior de nossa Sublime Instituição, gosto de lembrar a lição deixada pelo Octacilio Schüller Sobrinho, no seu Desafio das Mudanças, de que “Maçonaria é uma ESCOLA DO CONHECIMENTO e nada mais. Não é, nunca foi e nunca será um partido político. Não é, nunca foi e nunca será uma instituição econômico financeira.” (P. 17), ou seja, que nós devemos estar cientes e conscientes, ao ingressarmos nas fileiras maçônicas, de que nossa meta maior é o estudo, a reflexão e a conscientização, que leva ao Conhecimento e este, à Sabedoria que, no meu entender pessoal, é a aplicação do Conhecimento em prol de todos, não visando receber nada em troca, a não ser a discussão dos temas para a síntese, tão necessária.
Outro escritor maçom, Ubyrajara de Souza Filho, em recente obra: Ensinamentos Maçônicos (Mitologia, Filsofia e Gnose Aplicada à Maçonaria), nos traz lições que traduzem, com maestria, minha opinião a respeito de sermos ou não maçons.
Diz ele, referindo-se à Cultura Maçônica:
“Na verdade o conceito de Cultura Maçônica deve congregar a interpretação de seus Símbolos, a prática de tradições maçônicas e suas lendas míticas; não somente aquelas que foram incorporadas dentro dos Rituais e são exemplificadas em suas Cerimônias, mas também aquelas que, embora não figurem nas Instruções das Lojas, foram transmitidas oralmente como partes de sua história e enunciam em seu cânone de Instrução verdades fundamentais e pensamentos sobre a natureza humana, através do frequente uso de arquétipos, sem se referir à veracidade dos relatos.

Assim sendo, o futuro da maçonaria está diretamente ligado ao desenvolvimento cultural do Maçom. … o Maçom deve estar consciente de que se cultura é informação, isto é, um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos que se aprende e transmite aos contemporâneos e aos vindouros, a Cultura Maçônica deverá ser o resultado da forma como os Maçons receberam e transmitem seus ensinamentos; se cultura é criação, é importanate estar atento que ele não só recebr a cultura dos seus antepassados como também cria elementos que a renovam; e se cultura é um fator de humanização, deve compreender que esta transformação só ocorrerá porque ele é parte de um grupo em constante aperfeiçoamento cultural. (P. 20/21).
Mais adiante, o mesmo autor afirma que “O desafio maior do Maçom deve ser trabalhar incessante e incansavelmente no difícil ofício de ser Maçom em tempo integral, não somente dentro da Maçonaria.” (P. 23).

Na página 25 faz algumas afirmações, a meu ver, imprescindíveis para nos conscientizarmos do que é ser maçom:
“ Ser Maçom é fazer prevalecer a igualdade entre os Irmãos, para que as Lojas possam se tornar um catalisador de união e harmonia e promover a prática de um legítimo sentimento de Fraternidade entre os Irmãos para que, aprendendo a respeitar o que é específico de cada um e entendendo essa diferença como uma riqueza matizada que confere sentido à vida, consiga criar e difundir profundos e sólidos laços de amizade.
Por fim, Ser Maçom é questionar o mundo que o rodeia. …”
Finaliza:
“Para que aconteça “Maçonaria” é indispensável que sejamos Maçons o tempo inteiro, não somente dentro das Lojas ou em ambientes maçônicos. É necessária a conscientização de que devemos estar sempre comprometidos com os valores maçônicos nesse grande desafio de sermos reconhecidos como Homens Livres e de Bons Costumes.”
Como se pode perceber, ser Maçom não é, apenas, passar pela cerimônia da Iniciação, galgando, posteriormente, os outros graus, muitas vezes, até o ápice dos graus filosóficos, se não permitirmos que a Maçonaria faça, de nós, homens diferentes dos demais, para que nos destaquemos na sociedade, servindo, com nosso exemplo, aos princípios maiores da Moral e da Ética – a boa ética, pois, assim agindo, estaremos cumprindo nosso papel de construtores de uma nova sociedade.
O que devemos praticar, em Loja, é discutirmos os temas que envolvem a Maçonaria, a fim de conhecer sua história, suas realizações e, principalmente, o que ela ainda pode fazer pela humanidade; discutir, ainda, temas candentes da sociedade, como o que ocorre na política deste país ou nos conflitos do oriente médio, buscando saber o que pode ocorrer e quais as consequências advindas da violência que por lá grassa e atinge as populações locais, onde há um enorme desprezo pela vida e integridade humanas, dentre outros assuntos.
E qual a finalidade dessas discussões?
Buscar orientar nossos filhos e netos para que aprendam o verdadeiro sentido da vida, nosso papel no mundo que nos cerca, a fim de que possamos deixá-lo mais seguro e habitável para as gerações futuras.
Fazer, da nossa Loja um centro de estudos e difusão do conhecimento, a fim de nos prepararmos na luta pela vida profana, atendendo aos princípios de Maçonaria, deixando de lado nossas aspirações e sonhos pessoais, a fim de, efetiva e realmente, contribuirmos, decisivamente, para um mundo melhor, mais bonito e mais pacífico para a sobrevivência do ser humano sobre o orbe em que vive a raça humana.
Bibliografia:
Schüler Sobrinho, Octacílio, O Desafio das Mudanças, Ed. Maçônica “A Trolha”, julho de 2004.
Souza Fº., Ubyrajara, Ensinamentos Maçônicos (Mitologia, Filsofia e Gnose Aplicada à Maçonaria), Ed. Maçônica “A Trolha”, setembro de 2014.

 

Fonte: JB News

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