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Segredo Maçônico: Conatus

Charles
Evaldo Boller

1.
Abstrato

Avaliação
da possibilidade do maçom frear o motor do desejo que o movimenta ao erro e
submissão, sem matar o Conatus, sua iniciativa de persistir e evoluir
independente.

2.
Origem

Diversos
filósofos aplicam o conceito Conatus na explicação da origem da violência que
tira a liberdade do homem: aquela que o impede de andar com as forças de sua
própria iniciativa, escravizando-o através de paixões e desejos.

Trata-se
de um verbo latino que dá tratamento filosófico à compreensão e determinação
necessárias para tornar-se livre, continuar a existência e aprimorar-se na
linha de tempo reservada para a vida: a base da vivência maçônica.

Tem
aspectos positivos e negativos que são interessantes de serem analisados, pois
exercita uma dicotomia que auxilia no entendimento do ser.

Sem que
muitos o percebam, é parte das grandes provocações que a Maçonaria faz a seus
adeptos, já desde o primeiro psicodrama do simbolismo: a cerimônia da
iniciação; ocasião em que o iniciando é instado se deseja persistir mesmo em
presença da luta interna contra rejeição, desejo e paixão.

3.
Baruch Espinoza

Para
Baruch Espinoza o conceito Conatus é:

  • O
    desejo de viver, existir;
  • Esforço que se manifesta na consciência em direção da auto-perseverança para
    continuar existindo;
  • A
    vida repleta de desejos dos quais depende o usufruto da vida;
  • Onde
    o homem é essencialmente composto de desejos;
  • A
    potência de agir e resistir;
  • A
    essência da humanidade que varia de acordo com a intensidade da autopreservação
    onde não ter desejos é suicidar-se: é morte!

Como
viver sem submeter-se a desejos que escravizam à existência?

Como
perseverar na vida com qualidade debaixo do princípio de auto-conservação
natural que pode levar à escravidão?

O
conceito Conatus tem diversas significações em resultado do instinto e
livre-arbítrio naturais contrapondo-se ao exercício consciente da liberdade.

4.
Desejo

Desejo
é potência, capacidade de realizar, força que leva à ação.

Tudo
que resulta em ação é resultado de desejos.

É nisso
que se baseiam os oportunistas para exaurir a força da maioria dos humanos:
exploram os outros através de seus próprios desejos. Os abusadores deduziram
que o homem está construído mais para desejar que para raciocinar.

Pensar
é atividade cansativa, para alguns até dolorosa.

Poucos
pensam!

A
absoluta maioria da massa humana prefere receber o produto de outros pensadores
e levar a vida apenas nutrindo seus apetites e desejos primários: são aqueles
que estacionam na base da Pirâmide das Necessidades de Maslow, ao nível das
necessidades fisiológicas, e dificilmente alcançam ao estágio da autorrealização.

O homem
exibe em primeiro plano os resultados de seus desejos e não o resultado de sua
capacidade racional.

Os
desejos e paixões não deveriam ser a raiz de todo mal, perversidades e
perturbações, mas, em resultado da preguiça, são!

Por
indolência ou por perversidade, as paixões e desejos escravizam o homem. E o
pior, é o próprio escravo que assim o deseja, preferindo a prisão no recôndito
de suas paixões que ser livre com responsabilidade.

Daí ser
o maçom instado em combater o bom combate para vencer suas paixões
escravizantes e praticar as boas paixões para servir e trazer felicidade para
si mesmo e aos conviventes.

Mas
como matar o motor do desejo que movimenta o homem ao erro e submissão sem
matar o Conatus, sua iniciativa de persistir em evoluir independente?

Usando
deste elemento motor para desenvolver, pela racionalidade, apenas o lado bom e
livre desta potência natural.

Na
Maçonaria é oferecida a oportunidade de desenvolver a capacidade de iluminação,
o desejo de andar com as próprias forças, sem auxílio ou tutela de outros,
nutrindo os próprios desejos naturais sem submeter-se ao desejo de terceiros em
virtude de preguiça para evoluir utilizando dos recursos de seu próprio
discernimento.

5.
Fraternidade

A
convivência fraterna, e sem necessidade de escudos hipócritas, têm potencial
para libertar o homem.

A
fraternidade existe para proporcionar experiências alegres e agradáveis que
levam ao desenvolvimento de forças de ataque e defesa para derrubar desejos que
degradam.

A
iluminação maçônica tem a pretensão, não a certeza, de propiciar o meio onde a
potência para existir com qualidade seja aumentada. Tudo depende de como cada
um reage diante da provocação da Maçonaria que, pela fraternidade, induz às
experiências alegres de convivência, afastando os adeptos de situações
dolorosas e tristes causadas pela tirania, opressão e prepotência de minorias
sobre maiorias.

Os
encontros efetuados em loja, com sua ritualística e atividades cognitivas
cultas, levam a desfrutar da vida com alegria e utiliza a ação Conatus em seu
sentido positivo, presta-se a induzir perseverança para continuar na
autoconstrução. A loja é semelhante a uma família e ao mesmo tempo uma escola
de conhecimentos. Os mestres têm a obrigação de promover atividades e eventos
que alimentem o Conatus dos demais associados de tal forma a aumentar sua
potência e desejo para a vida fraterna. Não se trata exclusivamente de
festividades sociais, mas de reuniões alegres que promovam o bem, o culto, o
erudito. Os banquetes maçônicos são culturais. De um lado apreendem-se
conhecimentos e de outro, estes mesmos saberes são servidos e distribuídos aos
conviventes. É um sistema de trocas que funciona por indução: impossível de
representar em linguagem oral ou escrita porque afluem forças que são sentidas,
mas ainda impossíveis de serem verbalizadas.

Desta
forma são construídas personalidades fortes que agem na sociedade em todas as
suas dimensões.

Desenvolvem-se
líderes e não títeres.

Despertam
potencialidades que levam ao desenvolvimento de gestores dos próprios destinos
e transformadores da sociedade para desfrutar daquilo que a natureza oferece.

O
objetivo é lúdico e ao mesmo tempo de árduo trabalho na auto-construção.

O
centro é o homem maçom.

É uma
experiência espiritual.

A
mudança, de forma agradável, é centrada no maçom, no adepto, e não nos homens
da sociedade. A sociedade é afetada por consequências das ações dos maçons.

É o
homem forjado nas oficinas da ordem maçônica que vai fazer a diferença na
sociedade onde tem a potencialidade de conduzir seu destino e ajudar outros a
desenvolverem-se de igual forma.

6.
Teoria da Afetividade

O
conceito Conatus é central dentro da teoria da afetividade.

O
operador dinâmico é o maçom e sua afetividade enquanto ser concebido como tendo
uma natureza comum.

A
amizade é estratégica no procedimento de elevar a capacidade de perseverança,
de Conatus, para o desenvolvimento ao bem.

O
sucesso da atividade maçonicamente orientada depende e é inseparável dos laços
que se formam entre os irmãos. O próprio tratamento como irmandade já implica
na exigência de camaradagem na atividade lúdica e cultural.

A ação
Conatus é um esforço que não possui objeto, mas é estratégica: é uma potência
de agir dentro da fraternidade, seguindo a teoria da afetividade, com fortes
possibilidades de conservação do desejo de fazer o bem para a humanidade.
Assim, o maçom produz os frutos resultantes da própria produtividade dos dons
afetivos que a natureza disponibilizou dentro dele.

Os
aspectos positivos do conceito Conatus são as decisões internas que,
necessariamente, passam pela vontade de viver em sociedade com outros seres
vivos; “o homem é, por natureza, um ser social” (Karl Marx).

7.
Thomas Hobbes

Segundo
Thomas Hobbes, o conceito Conatus é indispensável na análise da concepção da
natureza humana, em:

  • Tudo
    aquilo que, de alguma forma, propicia a vida em resultado do desejo e da
    vontade individual;
  • Um
    fogo interno que move o homem a dirigir-se àquilo que lhe traz prazer e o
    afasta do que o desagrada;
  • Ação
    sem imposição externa: resultante do esforço em perseverar;
  • Capacidade natural de auto-conservação: característica racional humana em
    resultado da consciência de preservação da vida;
  • Preservar a essência interna do homem livre;
  • Manter um estado natural de vida do homem em sociedade.

Por
outro lado, a característica natural do conceito Conatus é observada também em
aspectos negativos, caracterizado por:

  • Egoísmo do homem que, desassossegado, deseja poder sempre mais que os outros,
    tendência que o acompanha até a morte;
  • Inclinação que move o homem a vencer sempre;
  • Luta
    no acumulo de recursos para além da necessidade;
  • Guerra de todos contra todos na vida social;
  • Homem
    governado por suas paixões, que acha possuir o direito natural de apoderar-se
    do que bem entender;
  • Aquilo que impulsiona o homem a ultrapassar ao outro na vida social, de onde
    afloram sentimentos de perdedor e vencedor;
  • Disposição que torna os homens iguais em força quando o fisicamente mais fraco
    adquire a capacidade de matar o fisicamente mais forte ao usar de estratagemas
    mais espertos.

Subjugar
o outro é característica natural do homem enquanto selvagem ou enquanto não
vence a si mesmo. Sua tendência natural é de sempre subjugar os da própria
espécie, explorando e exaurindo a força de produção do outro, dando o mínimo ou
nada em troca.

Segue a
máxima: “estamos aqui para comer uns aos outros”.

Esta
disposição mental violenta e agressiva pode ser moderada quando cada indivíduo
ingressa de forma responsável na vida social: uma das fortes propostas da
Maçonaria: pela igualdade, mesmo em presença das diferenças.

O
estudo dos contrates do conceito Conatus proporciona o entendimento de como
funciona a violência humana decorrentes do despotismo, da arrogância e da
prepotência de indivíduos, pessoas e grupos.

Ao
maçom, a dicotomia do conceito Conatus aponta caminhos para:

  • Tornar-se bem sucedido e evitar ser presa daqueles que se acham com mais
    direitos.
  • Fomentar relacionamentos onde todos levam vantagens, não necessariamente
    igualitárias, mas justas.
  • Ajudar no entendimento das razões da existência da violência, traduzindo-a como
    característica natural do livre-arbítrio que pode ser superada pela
    transformação consciente.

8.
Liberdade e Livre-arbítrio

A ação
humana é livre na proporção em que o ator entende como funciona sua
determinação, seu exercício de Conatus. O pensamento correto de liberdade advém
da análise das possibilidades, onde liberdade e possibilidade são ideias
independentes. A liberdade consta de possibilidades de ações e ideias
independentes.

Aprende-se
na Maçonaria que o homem só pode considerar-se livre se, em sua caminhada pelo
mundo, tiver a seu dispor a possibilidade de escolher racionalmente entre
alternativas. É a razão da pugna da ordem maçônica em oferecer liberdade para
toda a sociedade humana. Assim, ela desenvolve homens com conhecimento da liberdade
que se manifesta àqueles que obtêm consciência da autodeterminação: do Conatus.

O maçom
constata esta liberdade quando descobre que nada existe fora dele mesmo que lhe
imponha uma direção: é o exercício do Conatus voltado ao esforço de atender a
tendência de ser livre para persistir em existir e evoluir continuamente.

Com
este entendimento, não se confunde liberdade com livre-arbítrio:

  • Liberdade – Livre-arbítrio
  • Autodeterminação:
    a decisão vem do depois de pensado e avaliado. – Agir
    sem motivos ou finalidades: em resultado de impulso natural e instintivo.
  • Limitada
    e racional. – Ilimitado:
    manifesta-se sem razão ou objetivo.
  • Racional;
    artificial, dissimulada. – Emocional,
    instintivo, natural, franco.

O
autoconhecimento livra o homem do obscurantismo assim como a autodeterminação
leva o homem a desfrutar da liberdade com coerência.

Gostar
de alguma coisa, considerando que possa ser resultado de imposição de modismos
ou propaganda da mídia, não implica em falta de liberdade, desde que a ação, ou
gosto, seja resultado de desejo interno, particular. É liberdade desde que o
gosto pertença à pessoa em resultado de sua autodeterminação.

Já o
livre-arbítrio não passa de uma ilusão da imaginação, espécie de conhecimento
inicial. Livre-arbítrio, na ótica de Baruch Espinoza, é um preconceito
primordial, fonte de todos os outros preconceitos.

9.
Conceito e Ação Conatus

Em
diversas oportunidades da jornada, o adepto maçom é levado explorar e reforçar
sua inclinação latente e congênita de existir com qualidade e de aprimorar-se
como pessoa humana na ação Conatus que lhe é inerente.

A
melhoria pessoal ocorre na mente, no espírito, na psique e na matéria. Mudança
que acontece em todas as dimensões humanas com vistas a produzir um ser humano
melhorado em condições de persistir, de aplicar Conatus em sua jornada.

A
exploração do conceito Conatus, em seus aspectos positivos, evita a vaidade
congênita que tende ao desejo de querer ser mais importante que o outro, daí
constar na divisa da Maçonaria: a igualdade. Não existe igualdade sem
fraternidade e liberdade. Assim sendo, a ação Conatus impulsiona ao equilíbrio:
ocorre aporte de determinação e persistência quando se exercitam igualmente
igualdade, liberdade e fraternidade.

Ao
frequentar as sessões maçônicas, lentamente, em resultado de fraterna
convivência, o maçom se modifica e domina a inclinação de reinar sobre os
demais, considera-se igual e, com isso, propicia a liberdade de si mesmo.
Entender isso é iniciar-se em espírito: abraçar uma vibração energética que
fica acima da realidade perceptível aos sentidos. Ao vencer a vaidade e a
soberba torna-se irmão, inicia-se maçom: é reconhecido maçom. Assim, a sua
regularidade como maçom vai muito além dos sinais, toques e palavras. Demonstra
que entendeu a mensagem da cerimônia de iniciação: a dramatização da iluminação
maçônica. Entendeu que está no Universo para servir seus irmãos e à sociedade:
“a Maçonaria está nele!” —, dizem sem falsa retórica os mais
adiantados.

Aprendeu
bem e responde favoravelmente às provocações da Maçonaria em seus rituais: faz
o bem e se modifica em resultado da prática do bem. Para um homem assim, os
diplomas, as medalhas, os aventais, os colares e outros penduricalhos traduzem
expressões de vaidades! Encontrou o poder e a riqueza que edifica seu próprio
templo vivo nas virtudes que estão no espírito! Desta forma a ação do Conatus
faz o homem persistir em evoluir constantemente.

A
jornada modificadora interna do maçom segue em ascendência por uma senda que é
semelhante a uma escada dupla que sobe de um lado e desce pelo outro. De um
lado, enquanto o maçom sobe, ele é servido por seus irmãos de conhecimentos e
ciências, e de outro, enquanto desce pela escada, baseado em virtudes, ele
serve seus irmãos. É um exercício de humildade sem precedentes, haja vista a
característica natural negativa do conceito Conatus aplicada ao ser humano leva
o homem a sentir-se naturalmente mais importante que o outro. Servir sem
esperar nada em troca é o altruísmo mais elevado que o maçom pode alcançar! Com
isso ele serve qual construtor de templos vivos numa sociedade perdida,
pervertida e alienada a um sistema terrível de usura e escravatura.

Livre
da escravidão ao sistema florescem qualidades internas que edificam o caráter.
O ritual maçônico instiga ao hábito das coisas a serem desenvolvidas no
dia-a-dia em todos os lugares.

E do
hábito amadurecem grandes maçons que vencem o teste do tempo!

Sem
confundir liberdade com livre-arbítrio e longe de se afetar com a perda de
liberdade com a evolução científica, o maçom iniciado no espírito — que vive
uma experiência espiritual — usa dos conhecimentos e criações científicas para
servir a si e aos seus irmãos.

O
conceito Conatus é entendido e utilizado em suas dimensões positivas e de
construção do desejo e da paixão para o bem: é essencial na manutenção da
perseverança para realizar a caminhada da modificação em sentido lato do ser
para o bem.

O maçom
iniciado no espírito — naquele onde a Maçonaria penetrou em resultado das
reiteradas provocações — é o mestre servidor de seus irmãos. Sua alma
purificada pelo serviço prestado aos irmãos faz seu corpo resplandecer! Este
brilho, esta luz é resultado positivo da ação Conatus, do ensino e do apoio
dado aos irmãos porque é com isto que se dá honra e glória ao Grande Arquiteto
do Universo!

10.
Referências Bibliográficas

  • PAES
    LEME, André, Spinoza: o Conatus e a Liberdade Humana.
  • LIMONGI,
    Maria Isabel, Hobbes e o Conatus: da Física à Teoria das Paixões.
  • PEREIRA,
    Rafael Rodrigues, o Conatus de Spinoza, Autoconservação ou Liberdade.

Fonte: http://masoneria357.com

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