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O Salmo de Davi – Salmo 133

Semanalmente, durante o início da cada sessão em quase todas as lojas brasileiras, o V.M. escolhe um Irmão para oficiar no altar, abrindo o Livro da Lei e declamando o texto bíblico que dá nome a minha Loja Mãe, o Salmo de Davi Nº 133.

Aqueles que têm o costume de visitar outras lojas, com certeza já viu o Salmo 133 em diferentes versões que, a primeira vista, passa por sutilezas decorrentes das diferentes traduções bíblicas, mas que nos chamou a atenção. Como frequentador assíduo de livrarias, a cada vez que entrava em uma comecei a dirigir-me as prateleiras onde estão expostas as bíblicas, sempre focando no Salmo 133.

Diferenças não faltam nos termos usados, a exemplo da referência ao G.A.D.U. que pode ser encontrado como Deus, Javé, Jeová ou simplesmente Senhor. Há “Viver em Comunhão” ou “Viver em União”. “Como é bom”, “Como é agradável”, ou “Como é Suave”.

Certa manhã de domingo, enquanto lia meus emails deparei-me com uma mensagem de um amigo publicado em uma lista de correspondência de uma instituição religiosa, traçando excelentes comentários (religiosos) sobre o assunto. Ao final ele coloca como observação: “Esse Salmo é lido em todas as reuniões maçônicas do mundo!” É um erro comum, como tantos outros da Maçonaria brasileira. Eu já sabia que tal afirmação não era exata, mas não sabia explicar maiores detalhes.

Como a jogar luz sobre o  “Assunto Salmo 133“, finalmente consegui adquirir uma obra já esgotada na editora e que era do meu interesse havia algum tempo. Caiu como uma luva em minhas mãos o Livro “Desmistificando a Maçonaria” obra do irmão Kennyo Ismail, onde é reproduzido um dos artigos mais esclarecedores (e mais plagiados) sobre o assunto.

Em primeiro lugar, há que se registrar que essa não é a leitura original de Aprendiz no REAA, que adotava “João 1:1-5″ e, geralmente, apenas em iniciações. Passou-se a adotar o Salmo 133 no Brasil após 1927, e de forma mais predominante entre as décadas de 40 e 50, por influência da Maçonaria Americana (GLs) e Inglesa (GOB). Por sinal, a passagem de João tinha mais relação com o Grau de Aprendiz do que tem o Salmo 133, pois trata de trevas e luz. (Kennyo Ismail)

De cara, já tive minha primeira pergunta respondida, o uso  no R.E.A.A. pode, de certa forma, ser considerado uma novidade. Quando comecei a colecionar rituais confirmei que os primeiros destes não previam qualquer leitura durante o início dos trabalhos, o Livro da Lei era aberto, o esquadro e o compasso descansados sobre este e pronto. A leitura bíblica era feita apenas na iniciação, e como informado por Kennyo,  texto era o João, 1:1-5:

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. João 1:1-5

Quando algumas potências começaram a colocar em seus rituais uma leitura bíblica como parte da abertura ritualística dos trabalhos, eram os versículos de João os declamados.

O Salmo 133 começou a ser utilizado apenas em 1927, ano do cisma que levou ao desmembramento do G.O.B. dando origem as Grandes Lojas, da qual a nossa GLEB é a primeira. O G.O.B. desde o seu início buscava aproximação com a U.G.L.E. As novas potências, as grandes lojas, foram fundadas nos moldes americanos, ou seja, autônomas e com total liberdade sobre sua organização, legislação e rituais. Assim, tanto fugindo da influência do GOB quanto se aproximando das Potências Americanas, o versículo lido durante as iniciações até então, João 1:1-5, foi substituído pelo que era usado nos E.U.A., o Salmo 133. Claro que a mudança não foi unânime nem universal. Apenas entre as décadas 40 e 50 a leitura do Salmo 133 se popularizou, sem, contudo, tornar-se geral. Algumas potências Brasileiras até hoje, durante a abertura dos trabalhos utilizam João 1:1:5, que, como alguns autores defendem, é até mais adequada a grau de aprendiz.

Óleo: Utilizado na época para ungir or reis, até hoje está presente em rituais religiosos, como na igreja católica. Na própria passagem da crucificação de Jesus podemos ter ideia da importância desse ritual de purificação. Como foi morto no fim da tarde de sexta, teve que ser sepultado as pressas, pois ao anoitecer tem início o sábado para os judeus (como para os adventistas hoje) e não poderiam fazer toda a cerimônia de limpeza e purificação do corpo. Assim, o corpo foi envolto em linho e sepultado com brevidade. Na manhã de domingo, quando Maria Madalena retornou ao sepulcro, este era o objetivo dela, concluir a preparação adequada do corpo com limpeza e unção com óleos, de acordos com os costumes. Algumas traduções utilizam o termo perfume em vez de óleo.

Aarão: Era o irmão mais velho de Moisés, foi o primeiro sumo sacerdote de Israel. Era o porta-voz de Moisés

O Maior equívoco na redação de algumas versões ocorre quando afirma: “O Orvalho do Hermom que desce sobre os montes de Sião”. Vejamos:

foothills of the Atlas

O Monte Hermom, sagrado para os Judeus fica no extremo norte de Israel. Já os Montes de Sião, ficam no extremo Sul, é na região onde fica Jerusalem, em linha reta, a distância entre Hermon e Sião é de 190 km. Dizer que o orvalho do Hermom desce sobre os Montes de Sião, seria como falar que a chuva de Fortaleza Rega os pastos de Porto Alegre. Em Israel, o termo “Do Hermom ao Sião” deve significar “De norte a Sul”, é como no Brasil se falar “Do Oiapoque ao Chui*”.

Nas versões que lemos em Inglês, Francês e Italiano não encontramos o texto com esse sentido que mencionamos, de que o orvalho do Hermom desce sobre os montes de Sião. Nesses textos existem variações em alguns termos, tais como a denominação de Deus, mas na referência aos montes, consta em todos “… como o orvalho do Hermom e o que desce sobre os montes de Sião…

Mesmo em português, a versão mais conhecida e distribuída do Novo Testamento, a dos Gideões Internacionais (Aqueles de bolso que são distribuídos em escolas, presídios e repartições públicas), inclui os Salmos e o de número 133 é transcrito dessa forma de defendemos. Também na famosa Bíblia King James (Rei James), uma das primeiras traduções para língua diversa do latim e até hoje livro mais lido do mundo na língua inglesa, tendo servido de base para a maior parte das traduções atuais em outros idiomas podemos ler “As the dew of Hermon, and as the dew that descended upon the mountains of Zion“.

Entender a geografia e a história, torna mais fácil entender quando se diz “porque ali o senhor ordena a benção”, ou “dá sua benção”, dependendo da versão, o ali é: “do Hermon ao Sião”, ou seja, é toda a Terra Santa. Não é segredo que os Judeus da época acreditavam que, como povo escolhido, a benção de Deus era uma exclusividade de seu povo.

Uma versão do Salmo 133 que contivesse a expressão, “(…) como o orvalho do Hermom que desce até os montes de Sião (…)” poderia até fazer sentido. Os riachos alimentados pelo orvalho do Monte Sião deságuam no rio Jordão, que por sua vez vai até a região dos montes de Sião.

Mesmo tendo tornado-se uma característica basicamente da maçonaria Brasileira, vez que nos EUA só ocorre leitura durante a iniciação, é um salmo que todos os maçons brasileiros devem saber declamar de cabeça e de coração. É uma exaltação a união que deveríamos ter, mas ainda não é uma realidade.

Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho do Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.

Salmo 133**

* Sim! Eu sei que o Oiapoque não é o extremo norte do Brasil, mas a expressão continua valendo. Nunca ouvi ninguém falar “Do Caburaí ao Chuí“…

** Bíblicas católicas colocam este salmo como o 132

 

Fonte: http://www.irmaosdaordem.com.br/o-salmo-de-davi-salmo-133/

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