a
a
HomeTextos e HistóriasO MITO DE TÂNTALO

O MITO DE TÂNTALO

     Não é de hoje que o homem aspira a mais perfeita e elevada purificação. Como outrora, religiosos ferrenhamente devotados empreendem uma luta interior buscando alcançar o Olimpo, atingir o nirvana ou vivenciar o paraíso na terra.
     O mito grego do rei Tântalo desvela a ambição de um mortal que, não satisfeito em ser notoriamente o “predileto dos deuses”, almeja transmutar-se num “deus” propriamente, incorrendo num erro brutal.
Apontando a hýbris (desmedida), em Tântalo, na obra intitulada “O Simbolismo na Mitologia Grega”, o renomado estudioso francês Paul Diel, afirma que: “Afoito por sua conquista e esquecido de sua condição mortal e seus limites, Tântalo chega a se exaltar com tal intensidade que lhe sobrevém a tentação de querer se tornar um igual entre as divindades, puros símbolos do espírito”.
     A fim de obtermos maior clareza sobre esse latente desejo humano e de sua possível perversão, descortinemos o mito legado pelo premiadíssimo tragediógrafo Ésquilo (524-456 a.C.).
A desfrutar néctar e ambrosia, Tântalo, o próspero e abençoado rei de Corinto, justo e bem quisto, torna-se o único mortal admitido à mesa dos olímpicos. A consciência dessa distintiva predileção acaba por enredá-lo numa vaidosa e desvairada grandiosidade imaginativa.
    Presunçoso, no afã de confirmar seu estatuto de “igual” entre os deuses, Tântalo convida a todos do Panteão para um banquete em seu palácio e, pondo em teste a onisciência divina, lhes oferece o alimento terrestre, sob sua forma mais abjeta: a carne de seu próprio filho, Pélops.
     Servir essa funesta iguaria, fruto de sua obsessão doentia, simboliza a maior perversão empreendida por um mortal. Eis que os deuses são mesmo oniscientes, reconhecem a blasfêmia e, horrorizados, repudiam a ofensiva dádiva. Somente a deusa Deméter, da agricultura, perturbadíssima com o recente desaparecimento da filha Perséfone (Prosérpina ou Kore para os romanos), desatentamente, ingere um pedacinho da carne.
Malsucedido, Tântalo nem se igualou aos deuses, nem os rebaixou a seu nível, pois Zeus, o soberano do Olimpo, restaurador da ordem, ressuscita Pélops, reconstituindo o pedaço faltante do ombro por mármore (daí “hamartía”, a marca) e delibera sobre qual seria o pior castigo para o herege. O menino fora poupado, mas a maldição lançada aos descendentes da Casa de Atreu (cujo expoente será o ganancioso rei atrida Agamêmnon), como a “marca do pecado original”, legado no mito de Adão e Eva, trazemos todos até hoje: a eterna insatisfação.
A condenação pelo veredicto dos deuses, pela “lei psíquica”, ilustra a justiça inerente a todos nós. É na perturbação oriunda do conflito interior da psyché (alma) humana, que as divindades tornam-se expressões simbólicas da legalidade essencial da vida e de sua necessidade de fazer justiça.
     A santidade idealizada e perseguida em ciclos míticos como o hindu, o islâmico e o cristão, por exemplo, é justa. Almejar, no entanto, a santidade absoluta, esquecendo-se da condição humana, é irrealizável. Mais, ainda, uma ambição dessa magnitude constitui evidente desmedida (hýbris), caso de Tântalo.
     Paul Diel, afirma que: “Justamente em razão dos gregos não terem alcançado a visão clara e mais elevada do ideal simbolicamente expresso pelo mito cristão, é que [neles] o desejo de purificação perfeita só pôde ser visto sob seu aspecto negativo; o perigo de uma superexcitação doentia da esfera espiritual”. A visão mítica dos gregos nos “adverte contra esse perigo exprimindo unicamente o medo de ver rompida a harmonia das pulsões e perder a justa medida”.
Para outras formas de re-ligação (religião), o santo, o homem simbolicamente divinizado, “ungido” pelo “deus”, venceu todos os desejos da matéria, tanto no nível das inquietações físicas quanto no nível da imaginação exaltada e, tendo-os dissolvido, ele não é mais afetado por nenhuma tentação. Como Sidarta Gautama, o Buda, transcende a tudo e a todos.
Ao que Tântalo almeja, tornar-se também um deus, o grego impõe interdito. O ideal de santidade proposto pela doutrina cristã caracteriza um passo evolutivo que transpõe os marcos da cultura pagã. O interdito é esse: a carne se fazer espírito, o homem tornar-se deus. A correção é essa: o Espírito faz-se carne, Deus faz-se homem.
Desse modo, o indivíduo que busca a verdadeira santidade dispõe de toda energia de seus desejos, subtraindo-se ao mundo em relação ao qual ele nada mais deseja e, precisamente por haver-se assim libertado das múltiplas ligações afetivas, permanece unido ao mundo graças a vínculos mais intensos: o amor (caritas), a bondade e a compaixão.
Luciene Felix
Professora de Filosofia e Mitologia Greco-Romana da ESDC

 

Fonte: O Ponto dentro do Círculo 


NÃO PERCA ESTA OPORTUNIDADE
ADQUIRA AGORA MESMO ESTE LIVRO

Esta Coletânea reúne alguns retalhos e recortes da rica história do Grande Oriente do Brasil, primeira Potência Maçônica a se instalar em território brasileiro, em 17 de junho de 1822, em comemoração aos seus 195 anos de existência.

MAÇONARIA, MAÇOM, MAÇONS, LIVROS MAÇÔNICOS, LIVROS ESOTÉRICOS, GOB, COMAB, GLM, LOJA MAÇÔNICA, GRANDE LOJA MAÇÔNICA, HISTÓRIA DA MAÇONARIA, HÉLIO PEREIRA LEITE, HÉLIO P. LEITE, HPL, 195 ANOS DE FUNDAÇÃO DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL, O GRANDE ORIENTE DO BRASIL COMEMORA 195 ANOS DE FUNDAÇÃO

195 ANOS DE FUNDAÇÃO DO

GRANDE ORIENTE DO BRASIL


MAÇONARIA, MAÇOM, MAÇONS, LIVROS MAÇÔNICOS, LIVROS ESOTÉRICOS, GOB, COMAB, GLM, LOJA MAÇÔNICA, GRANDE LOJA MAÇÔNICA, HISTÓRIA DA MAÇONARIA, HÉLIO PEREIRA LEITE, HÉLIO P. LEITE, HPL, 195 ANOS DE FUNDAÇÃO DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL, O GRANDE ORIENTE DO BRASIL COMEMORA 195 ANOS DE FUNDAÇÃO


Este slideshow necessita de JavaScript.

No comments

leave a comment