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DA SÉRIE: CURIOSIDADES MAÇÔNICAS (II) – A INICIAÇÃO DE FREDERICO II

Durante um jantar que se realizava no castelo de Loo, perto de Gelderu, o rei Frederico-Guilherme 1º, da Prússia, manifestou profunda aversão que lhe inspirava a Maçonaria, a qual começava a fazer falar muito de si.
Logo que sua majestade lhe deixou vagar, o conde reinante de Schaumbourg-Lippe tomou a palavra, para defender uma instituição a que se honrava de pertencer (1). Com uma eloquência impressionante, o conde fez conhecer os princípios da Maçonaria, insistindo em falar de sua larga tolerância convidando os homens a se elevar por sobre todas as estreitezas que os dividem. Ele declarou que os Maçons, que respeitam pela razão de sua influência moralizadora. Se eles procuram a verdade, é com o fim de chegar a um entendimento fraternal entre todos os homens esclarecidos, sem distinção de raça, de língua, de crença, de nacionalidade ou de posição social…
“(1) Ele tinha sido iniciado antes de 1725, pela Loj.’. Rummer and Grapes, uma das quatro que, em 1717, fundaram a Gr.’. Loj.’. de Londres.
Entre os convivas, nenhum foi mais atento que o príncipe real da Prússia, o futuro Frederico II. Apenas se levantou da mesa, chamou à parte o conde de Lippe e principiou por o felicitar, pela coragem com a qual vinha de defender suas convicções, comunicando-lhe, em seguida, sob o selo do segredo, seu desejo de participar de uma associação que desenvolve, a tão alto ponto, entre seus membros, o amor à verdade.

Este pedido de iniciação, formulado em 18 de Julho de 1738, foi transmitido, desde o dia seguinte, pelo conde de Lippe, a um amigo que o mesmo julgava capaz de dar satisfação dele. Os documentos que reproduzimos sob o título: Os preliminares da iniciação de Frederico II (2), mostram como a Loj.’. de Hamburgo, munida da petição de um “ilustre desconhecido”, se apressa em se colocar à sua disposição, para o iniciar discretamente. Concernentemente à mesma iniciação, ninguém melhor qualificado para nos informar, que o Barão de Bielfeld, o qual nela teve parte ativa. A terceira de suas Cartas familiares e outras, publicadas em 1763, está endereçada ao barão d’Oberg, Ven.’. da Loj.’. de Hamburgo. Tem a data de 20 de Julho de 1738, mas foi redigida depois naturalmente pelas necessidades da coleção onde as memórias do barão de Bielfeld tomaram a forma epistolar. Eis seu texto:
“(2) – Ver Symbolismo, n. 33 (novembro de 1920), pags. 243 a 251.”
“Venerabiliss.’. Mest.’. !
Agis comigo, não como Ir.’., mas como Pae-Maçom: quereis me fazer participar da glória de receber o príncipe real da Prússia em nossa Ord.’. . Conheço toda a importância deste favor e estou pronto a vos acompanhar até Brunswick, afim dali fazer a recepção. Parece, pela carta do Sr. Conde reinante da Lippe-Buckebourg, que a ideia de se iniciar Maçom veio a esse grande príncipe de uma maneira assas singular. Admirai, Venerabiliss.’. , a concatenação bizarra dos acontecimentos ! É preciso que o rei da Prússia venha, com númeroso séquito, a Loo, para ali visitar o príncipe d’Orange; que seja acompanhado do príncipe real; que à mesa a conversação caia sobre a Maçonaria; que o rei fale desfavoravelmente dela: que o conde de Lippe lhe tome a defesa; que ele não seja absolutamente ofuscado pelo brilho da majestade, mas que, com nobre ousadia, se confesse Maçom; que ao sair da refeição o príncipe real lhe testemunhe, em particular, o desejo que tem de ser membro desta sociedade, empenhando-se para que sua recepção possa ter lugar em Brunswick, onde o rei, seu pai, se acha resolvido a ficar e onde o concurso de toda a sorte de estrangeiros, durante a próxima feira, fará menos suspeita a chegada dos Maçons, os quais estão convidados a ir lá formar uma Loj.’. com tal objetivo; que o conde de Lippe se dirija a vos, Sr., para nossa Ord.’. obter essa gloriosa aquisição, e que vossa amizade vos faça pensar em mim, afim de me meter na partida.
Eis ai, Venerabiliss.’. , uma sequência de acidentes notáveis e que me fazem augurar favoravelmente o êxito dessa empresa. Sabeis que meu estado atual me desagrada e que minha pátria me aborrece. Pareço essas plantas, que não prestam para nada, se não são transplantadas. Em Hamburgo eu subiria, quando muito, como semente e pereceria. Talvez o Gr.’. Arch.’. do Univ.’. queira estabelecer minha fortuna e lançar seus fundamentos em Brunswick…”
Jacques Frederico de Bielfeld, que vinha de atingir sua maioridade, deveu, com efeito, à Maçonaria a brilhante carreira que fez na corte da Prússia. Eis como conta o acontecimento que devia ser fatídico, tanto para ele mesmo, quanto para a Maçonaria de seu país:

“ Partimos de Hamburgo o Se. Barão d’Orange, o Sr. Barão de Löwen e eu, em 10 de agosto e chegamos no dia seguinte, à noite, às portas de Brunswick. O empregado da alfândega se achou com o dever de fiscalizar nossa bagagem. Esta cerimônia aduaneira nos causou grande consternação. Julgai nosso embaraço: tínhamos conosco um grande cofre cheio de todas as alfaias, instrumentos e utensílios necessários a Loj.’. . Tudo isso podia ser mercadoria de contrabando para Brunswick. Deliberamos um instante. Se o fiscal se obstinasse em abrir o cofre, não nos restaria outro partido a tomar, que nos anunciarmos como adeptos ou charlatães: mas nos livramos do medo, pois, mediante um ducado que introduzi em sua mão, ele declarou que éramos gente de qualidade, incapaz de fraudar o fisco.
Tomamos hospedagem no Hotel de korn, o mais distinto da cidade, que seria uma boa taverna em outra parte. O Sr. Conde de Lippe, o conde de Kielmansegge e o Sr. Barão d’Albedyll d’hanovre chegaram quase ao mesmo tempo e vieram se juntar a nós ainda na mesma noite. Rabon, criado de quarto do Sr. D’Oberg e bom maçom, estava destinado a fazer as funções de Cob.’. que desempenha otimamente.
No dia seguinte, de manhã, o estrondo dos canhões da trincheira nos anunciou a chegada do rei da Prússia e de seu séquito. A presença do monarca e a afluência de toda a sorte de estrangeiros, que a feira atraiu a Brunswick, animaram extraordinariamente esta cidade. Combinamos que nenhum de nós mostrar-se-ia à corte, exceto o Sr. Conde de Lippe, que delegamos ao princípe real, afim de pedir suas ordens quanto ao dia, hora e lugar da recepção. Sua alteza acolheu a noite de 14 a 15 e quis que ela se fizesse em nosso alojamento, o qual, realmente é bastante espaçoso e muito conveniente, em todos os sentidos. Só havia um empecilho: a vizinhança do Sr. De W… , que ocupava um quarto, ao lado de nosso salão de entrada, simplesmente separado por uma espécie de tabique. Ele poderia entender tudo e o divulgar. Esta reflexou nos alarmou. Entretanto, nossos IIr.’. hanoverianos conheciam o feliz dom que o mesmo tinha de afogar, como diz a canção, sua triste razão no vinho, e lhe atacamos o fraco. Atiramos-lhe, um após outro, uma visita ao sair do jantar, e, estando animados a lutar contra ele tal estado, que ele teria podido dormir, sem acordar, ao lado de uma bateria, prestando-nos o tirso de baco, nessa ocasião, o mesmo serviço que nos poderia ter prestado o dedo do deus Harpocrate.
De resto, todo o dia 14 se passou em preparativos para a Loj.’. , até que à meia noite, vimos chegar o príncipe real, acompanhado do conde de Wartenslebem, capitão do regimento do rei, em Potsdam. O príncipe nos apresentou este último como um candidato, que nos recomendava, cuja recepção desejava se fizesse imediatamente à sua. Ele nos solicitou, finalmente, para não se omitir, em sua própria recepção, nenhuma das cerimônias rigorosas, que podem ser usadas em igual caso, e também para se não lhe perdoar nada, permitindo-nos o encarassemos , esta vez, como um simples particular. Enfim, o recebemos com todas as formalidade devidas e requeridas. Admirei seu garbo, sua intrepidez e a boa vontade que as acompanharam, mesmo nos instantes os mais críticos. Eu havia preparado um pequeno discurso, pelo qual ele demonstrou seu contentamento. Depois das duas recepções, abrimos a Loj.’. e procedemos ao trabalho. O príncipe se desobrigou de tudo com tanto espírito, quanto habilidade. Confesso-lhe meu, caro ir.’. , que formei sobre ele um grande juízo relativamente ao futuro. Sua estatura não é muito alta, e Deus não o teria escolhido para reinar em lugar do rei Saül, mas, considerando a grandeza e beleza de seu gênio, o príncipe merece ocupar o trono da Prússia, para a felicidade do povo. Seu trato é agradável, a fisionomia espiritual, o porte nobre. Um adamado de Paris não acharia seus crespos assás regulares, mas seus cabelos, de um castanho belo, são bem combinados com o aspecto de seu rosto e negligentemente anelados. Seus grandes olhos azuis têm, ao mesmo tempo. Qualquer coisa de severo, de doce e gracioso. Fiquei surpreso, de lhe achar um grande ar de juventude. Suas maneiras são inteiramente as de um homem de excepcional nascimento e é o mortal mais bonito do reino que o aguarda, tendo tratado o Venerabiliss.’. Mestr.’. , barão d’Oberg, com amabilidade e delicadeza as mais carinhosas. Eu não lhe falo das qualidade de sua alma. Seria difícil as estudar numa simples conversa, mas vos afirmo que ele não pronunciou uma só palavra que não revelasse extraordinário espírito e um grande fundo de bondade. Reporto-me, a esse respeito, ao que diz a voz pública. Lancei-me ao leito, cansado das fadigas deste belo dia…”
Escrevendo a um Maçom, Pierre de Stüven, que foi quem o apresentou à Loj.’. de Hamburgo, o barão de Bielfeld não descreveu as provas iniciáticas, as quais quis ser submetido o futuro Frederico II. Nós nos comprometemos, entretanto, a satisfazer, sobre esse ponto, a legítima curiosidades de nossos leitores.
(traduzido do “ Le Symbolisme”, de Paris )
Fonte: Boletim do Grande Oriente do Brasil, Janeiro de 1922.
Pesquisa: Helio P. Leite
Esta série continuará na próxima segunda-feira com a sua terceira etapa:
Maçonaria. seus princípios – seus intuitos:
contra os ataques clericais
Gilberto de Andrade

Fonte: “Simbolisme” de Paris

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