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BRASIL TERÁ SEU GUIA DE RESTAURANTES MICHELIN

Não é comum rapazes de 17 anos e 18 anos economizarem por meses para um jantar. Muito menos se não houver nenhuma garota a impressionar. Decidir que esse ritual se repetirá por anos é ainda mais incomum. Foi o que fizeram os estudantes ingleses Sam Matthews, Cris Mann, Stuart Hall, David Figg e Cal Williams, quando cursavam o primeiro ano de turismo da faculdade Norwich City, da cidade inglesa de mesmo nome, em 2008. O plano era ambicioso: jantar no maior número de restaurantes premiados com estrelas do guia francês Michelin que conseguissem.

No primeiro ano, o dinheiro salvo encheu o tanque do “carro Fiesta velho e apertado” para levar os cinco amigos para Londres, a 190 quilômetros, pagar por duas noites num albergue e jantar no Petrus, restaurante do chef Gordon Ramsay, que comandou o reality show “Hell’s Kitchen”. À medida que conseguiram empregos melhores, o número de restaurantes estrelados aumentou. No ano passado, os cinco amigos comeram em oito restaurantes do Michelin, no percurso entre a França e a Espanha. A lista de lugares a visitar ainda é bem extensa “É um plano para a vida toda”, disse Call Williams, que hoje é gerente do hotel quatro estrelas Dunston Hall. A partir do próximo ano, o Brasil entrará para a lista dos rapazes de Norwich College.

O Guia de Restaurantes Michelin vem, finalmente, para o Brasil. Na próxima semana, o diretor internacional dos guias da marca, Michael Ellis, estará em São Paulo. A empresa não revela a razão da visita. Mas fontes de alguns dos restaurantes mais respeitados da cidade confirman que haverá um guia no Brasil e que as visitas de avaliação a restaurantes já começaram. É o primeiro país da América Latina a ter um guia Michelin. Nas Américas, somente algumas cidades dos Estados Unidos são avaliadas.

O Guia Michelin é o mais antigo guia de restaurantes em circulação. A primeira edição saiu em 1920. Sempre foi um produto europeu feito para europeus ou para turistas com paladar europeu. O guia já tinha 85 anos quando se aventurou fora da Europa pela primeira vez. O destino foi Nova York. Dois anos depois, em 2007, Michelin foi mais longe. Foi parar no Japão, o 22º país coberto pelo guia. Mais dois anos chegou a Macau e a Hong Kong. Hoje cobre 23 países. O Brasil será o 24º.

Criado em 1900 pela empresa de pneus francesa de mesmo nome como um guia gratuito de estradas e de hotéis, o Michelin se tornou uma grife como guia e ultrapassou, em prestígio, a empresa-mãe que produz pneus há mais de cem anos. O guia pode dar uma, duas ou três estrelas aos restaurantes selecionados. Aqueles considerados muito bons recebem uma estrela. Três estrelas são dadas a casas avaliadas como excepcionais. Quem come num restaurante três estrelas Michelin conta que comeu. Muitos, com o mesmo nível de orgulho que relatam uma subida ao topo do Monte Fuji, no Japão. Quem ganha uma estrela Michelin cobra mais caro e ganha mais fregueses. Quem a perde fica mais pobre.

Houve um tempo em que o restauranter que desdenhasse publicamente do Michelin era notícia. Não é mais. Não faltam críticas ao guia, ao júri, aos critérios de escolha. Há quem diga que o Michelin é esnobe ou que favorece a culinária francesa. As críticas têm em comum virem de chefs que não estão entre os contemplados do guia. São raras, se é que existem, reclamações de quem é reconhecido por ele.

O anúncio esperado para o dia 27 pode conter inúmeras surpresas. O Brasil pode não ser o único novo país a fazer parte do guia. O guia pode vir a cobrir somente São Paulo, como ocorreu com o lançamento do Michelin em Nova York, em 2005.  Nada disso mudará o que a cobertura do Michelin representa. Independentemente de gostar ou não do guia, estar entre os países avaliados diz algo simples e essencial sobre a nossa gastronomia: ela não pode mais ser ignorada.

(Flávia Yuri Oshima escreve às sextas-feiras)

Fonte: Revista Época

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