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HomeTemplo de Estudos MaçônicosA verdadeira Maçonaria Operativa sobreviveu?

A verdadeira Maçonaria Operativa sobreviveu?

Depois de uma longa gestação ao longo do século XVII, a Maçonaria especulativa adotou a sua forma moderna em Londres, em 1717. Ela, então, conquistou a Europa e o mundo e estava fadada a ter um destino extraordinário. No entanto, desde o século XVIII, a legitimidade da Primeira Grande Loja do sistema maçônico que ela difundiu é contestada. A última dessas contestações aconteceu no coração da antiga Inglaterra, em 1909, em uma região de área de pedreiras, perto da antiga cidade medieval de Leicester. O depoimento e as declarações do irmão Clement Stretton estão na origem de um dos mitos maçônicos que fez correr grande quantidade de tinta … e de um sistema de altos graus bastante interessante.

O caso começou em 1909, com uma palestra diante da Sociedade de Engenheiros de Leicester, seguida pela publicação de um pequeno livreto intitulado Arte Tectônica. Seu autor é um engenheiro de nome Clemente Stretton. Esse estudo de cerca de quinze páginas bastante densas é dedicado à história da guildas de construtores, à sua organização, a algumas das suas técnicas e às conotações simbólicas que ela podiam ter. Uma vez que seu estudo foi publicado, Stretton, que também era maçom, vai se concentrar em divulgar e promover suas ideias nos círculos maçônicos.

Stretton explica que a Maçonaria moderna foi, certamente, fundada na esteira da Maçonaria operativa. Mas Anderson, Desaguliers e seus fundadores – que ali´s foram perjuros em seu juramento – tendo sido recebidos apenas nos graus infeirores da Ordem e tendo apenas um conhecimento parcial. A Maçonaria “andersoniana” propõe, portanto, apenas uma educação incompleta e aproximada, bem longe de transmitir toda a riqueza simbólica e iniciática de antigas irmandades de maçons operativos. Stretton sabia o que dizia, já que sendo um engenheiro que trabalhara na construção de diversas estruturas dizia que ele próprio recebera de um dos sobreviventes desse Maçonaria operativa: “A Venerável Sociedade dos Maçons, Maçons de Grandes Obras, Construtores de Muralhas, Trabalhadores da Ardósia, Pavimentadores, Estucadores e pedreiros.”

A verdadeira Maçonaria era dividida em dois ramos: a Maçonaria do Esquadro ou Maçonaria Azul; a Maçonaria do Arco ou Maçonaria Vermelha. A primeira reunia companheiros que construíam elementos retos da arquitetura, os segundos às abóbadas, arcos e volutas. No percurso do Maçom – “de Esquadro” ou “de Arco”, há dois caminhos paralelos – não se desenrola em três etapas; a verdadeira Maçonaria tem sete graus: 1- Aprendiz engajado; 2 / Companheiro do Ofício; 3 / Companheiro Especialista da arte; 4 / Construtor do Templo 5 / Condutor Principal da obra; 6 / Mestre, 7 / Representante do Grão-Mestre Maçom, membro do Sinédrio. Além das passagens de grau, os “Operativos” tinham três grandes cerimônias anuais: em abril-maio a comemoração da fundação do Templo de Jerusalém; em 2 de outubro, a comemoração da morte de Hiram e em 30 de Outubro a dedicação do Templo. A “Venerável Companhia” era dirigida por Três Grãos Mestres Maçons. Os rituais “operativos” apresentavam parte dos elementos maçônicos clássicos – depois todos os fundadores de 1717 tiveram um contato real com a “Venerável Companhia” – mas eles a complementam e a ampliam por meio de especulações sobre a arte de construir e o simbolismo geométrico particularmente rico no plano iniciático.

Stretton não teve grande sucesso com a Maçonaria institucional que quase não se interessou por suas revelações. Em contraste, dois círculos maçônicos marginais deram-lhe atenção sustentada e entraram em intenso intercambio sobre essa sobrevivência providencial da verdadeira maçonaria operativa. Um irmão erudito, John Yarker que animava então diferentes sistemas de algos graus do Iluminismo e a revista The Co-Mason, órgão de uma pequena obediência mista originária do Direito Humano britânico. Como parte desses intercambios, Stretton gradualmente revelou a Yarker e à Co-Mason todo o sistema dos “Operativos”. Depois de ser praticado principalmente por Miss Boswell-Gosse e seus amigos da “Ordem da Antiga e Aceita Maçonaria para Homens e Mulheres”, o rito dos “Operativos” passou para a Maçonaria inglesa institucional onde ele é hoje um dos muitos sistemas de “graus laterais” oferecidos aos membros da Grande Loja Unida da Inglaterra. O “A Maçonaria de Stretton” também teve um impacto na França através de René Guénon, que estava muito interessado nos “Operativos” de Stretton e usava os ensinamentos em sua obra.

Para ir mais longe: 
Bernard Dat, « La Maçonnerie “opérative” de Stretton : survivance ou forgerie ? » em Renaissance Traditionnelle, n°118-119, abril-julho 1999, Número especial : « De la Maçonnerie opérative à la Franc-maçonnerie spéculative : filiations et ruptures », p. 149-212.

Sobre o autor

Pierre Mollier

Autor e historiador

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